A operação no Complexo do Alemão e da Penha expõe o dilema entre garantir a lei e enfrentar o terror armado que domina comunidades inteiras.

Ainda é cedo para uma avaliação conclusiva, mas já é possível estabelecer alguns critérios diante da megaoperação deflagrada na última terça-feira no Complexo do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro.

Comecemos dizendo que “traficante não é vítima do usuário” — tal afirmação é completamente absurda. O traficante armado com fuzil, granadas, drones e bombas é um bandido que, ao contrário da desastrada fala do presidente, deixa vítimas por onde passa, a começar pelos moradores das comunidades onde atua.

Há homicídios, há extorsão, há tortura, há crueldade, há cobrança por serviços básicos, há o terror. Diante do elevado número de mortes (mais de cem), é natural a reação de segmentos da sociedade e da imprensa. “Ninguém festeja a morte alheia”.

O crime organizado está profundamente infiltrado na teia social. E não se limita ao tráfico de drogas — as modalidades de crimes praticados vão muito além da venda de entorpecentes. O Rio ainda convive com a assustadora ação das milícias. Não é brincadeira.

O que sabemos até aqui? A operação adotou uma estratégia acertada ao conduzir os bandidos para a mata que cerca as comunidades, rota comumente usada para fugas. Foi lá, na mata, que membros do BOPE cercaram os criminosos e teve início a troca de tiros. Nenhum daqueles que perderam a vida se rendeu. A polícia foi confrontada.

O que fazer? Sair correndo? Hastear uma bandeira branca? Não restava outra alternativa senão o intenso e letal tiroteio.

Nessa guerra urbana, quatro policiais perderam a vida. Eles estavam lá, com coragem e determinação, defendendo a sociedade. Foram mortos. É preciso aguardar para saber se houve inocentes entre as vítimas e em quais circunstâncias.

A vereadora Marielle Franco foi covardemente assassinada nesse mesmo contexto de violência desenfreada. Há poucos dias, em São Paulo, o delegado Ruy Ferraz Fontes foi brutalmente morto pelo PCC. Essa é a nossa realidade.

Não dá para combater o crime organizado lendo a Bíblia ou pedindo a rendição de quem carrega um AK-47 cheio de balas, pronto para disparar. Infelizmente, o conflito armado se impõe.