PENSAMENTO PLURAL O acirramento do confronto, por Rui Leitão

O escritor Rui Leitão observa, em sua crônica, como vem imperando no Brasil uma espécie de “ativismo inconsequente pautado no fanatismo e na paixão partidária”, num clima de radicalização crescente do debate ideológico, que pouco tem de ideias e muito de intransigência recíproca. “Na verdade o que se observa é uma guerra de interesses, onde se mostra baixa politização e muita emoção”, postula Rui. Confira a íntegra de seu comentário:

Estamos diante de uma situação de conflito que se torna  cada dia mais perigosa. A radicalização do debate político está levando os brasileiros a protagonizarem um confronto de ideias, pensamentos e desejos, numa crescente elevação de tensão entre os grupos em enfrentamento.

Não sei nem se poderíamos chamar isso de debate ideológico. Na verdade o que se observa é uma guerra de interesses, onde se mostra baixa politização e muita emoção. Esse clima bélico é alimentado pela retórica inflamada  e discursos agressivos.  A tolerância é atitude inteiramente desconsiderada nos tempos atuais. Criam-se, até nos núcleos familiares, divergências que estimulam inimizades e práticas de desrespeito mútuo.

Já não se verificam debates com argumentos, porque as diferenças sequer admitem uma análise racional da conjuntura. Perdeu-se, efetivamente, o raciocínio lógico, imperando o ativismo inconsequente pautado no fanatismo e na paixão partidária. É como se tivéssemos chegado a um estágio da nossa história em que entendimentos se tornaram impossíveis, mesmo quando  buscados  em  nome  da paz e da justiça social.

O antagonismo incita a violência. Não se estabelecem  mais princípios políticos convergentes, porque   dominados por forças heterogêneas que ameaçam destruir o conceito de nacionalidade. Somos um povo dividido, habitando um mesmo território. A irracionalidade tomando forma de comportamento político.  As estratégias políticas e econômicas,   ditadas na conformidade dos interesses de cada grupo. Está se decompondo o sentido de nacionalidade que deveria   imperar em qualquer  discussão, na observância,  “estrito senso”,  do que seja “fazer política”.

O ódio recíproco não pode prevalecer no debate político em que se espera um  critério mínimo de responsabilidade. É preciso urgentemente que os espíritos sejam desarmados.  É chegado o momento em que cada brasileiro deva fazer a sua parte no objetivo de retomar o equilíbrio nas relações sociais. Exercer o autocontrole no sentido de evitar ofensas verbais ou agressões físicas, que só contribuem para a provocação inconsequente.

“Os amores na mente/As flores no chão/A certeza na frente/A história na mão/Caminhando e cantando/E seguindo a canção/Aprendendo e ensinando/Uma nova lição”.  Esse é o nosso hino cívico. Geraldo Vandré diz tudo nesses versos. Porque nos dividirmos, se juntos seremos mais fortes? No confronto, nem aprendemos, nem ensinamos, e fica difícil lutar com a certeza na frente. A permanecer esse ambiente de guerra fratricida, vencerão os aproveitadores da inconsciência popular.

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