Em sua crônica, o escritor Palmarí de Lucena avalia como as tarifas americanas e a retração diplomática abriram caminho para a expansão da influência comercial chinesa no Brasil, Sudeste Asiático e África. “Essa mudança reconfigura cadeias produtivas e fluxos comerciais, afetando mercados e consumidores, especialmente no varejo dos EUA. Em meio a desafios, emergem novas parcerias e centros econômicos que moldam o futuro do comércio global”, diz Palmarí. Confira íntegra…
Nos últimos anos, as tarifas elevadas impostas pelos Estados Unidos, especialmente durante a administração Trump, têm gerado efeitos que vão além das relações bilaterais, impactando regiões estratégicas como o Brasil, o Sudeste Asiático e a África. O protecionismo americano e a redução do engajamento diplomático abriram espaço para a ampliação da influência comercial chinesa nesses mercados, com consequências importantes para o cenário global.
No Brasil, maior parceiro comercial da China na América Latina, essa aproximação se intensificou em meio a tensões comerciais. Um exemplo recente é a autorização dada pela China, em julho de 2025, para a entrada de 183 novas empresas brasileiras no mercado de café — uma resposta estratégica às tarifas americanas de 50% sobre o produto, previstas para agosto. Além disso, acordos com redes chinesas, como a Luckin Coffee, ampliam a demanda por café brasileiro, consolidando o país como fornecedor global de alta qualidade e aproveitando o crescimento do consumo interno chinês.
No Sudeste Asiático, a China fortalece sua presença por meio de investimentos em infraestrutura e comércio, como na iniciativa da Nova Rota da Seda. Países da região buscam equilibrar suas relações comerciais, ampliando a cooperação com Pequim diante das tarifas americanas e do menor engajamento dos EUA.
Na África, a expansão chinesa é visível em financiamentos e parcerias para projetos em infraestrutura, tecnologia e recursos naturais, aproveitando a redução da atuação americana para ampliar sua influência geopolítica.
Essas mudanças revelam como as políticas americanas, ao focar em protecionismo e diminuir a presença diplomática, acabam estimulando o crescimento da China em mercados essenciais. A expansão chinesa reflete não só uma estratégia planejada, mas também as transformações na ordem econômica mundial, em que cooperação e competição redefinem o comércio global.
Além dos efeitos externos, as tarifas sobre produtos chineses afetaram o mercado interno dos EUA, principalmente o varejo. O aumento dos custos de importação elevou preços para o consumidor final, impactando seu poder de compra e levando a uma busca por alternativas locais ou de outros mercados. Varejistas tiveram que rever suas estratégias, decidindo entre absorver custos ou repassá-los.
As tarifas e retaliações também vêm redesenhando as cadeias produtivas globais. Empresas deslocam parte da produção para países do Sudeste Asiático, como Vietnã e Tailândia, que oferecem melhores acordos comerciais e custos menores. No Brasil, além do agronegócio, setores como indústria e tecnologia ampliam parcerias com a Ásia e África. Os fluxos comerciais se diversificam, com novas rotas ganhando espaço para reduzir riscos e custos, alterando o papel das tradicionais rotas transatlânticas e transpacíficas. Apesar dos desafios para a estabilidade do comércio, essas transformações criam oportunidades para novos centros econômicos e formas de cooperação que devem moldar o futuro.
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