PENSAMENTO PLURAL O bolsolavismo perdendo força, por Rui Leitão
O escritor e historiador Riu Leitão, em sua crônica, postula que o movimento nominado de bolsolavismo, que ganhou corpo com a eleição de Bolsonaro, tendo como mentor intelectual o filósofo Olavo de Carvalho, estaria, atualmente, em queda. Segundo Rui, “a opinião pública busca sair das bolhas ideológicas de extrema, tanto da direita, quanto da esquerda”. Confira a íntegra de seu comentário:
Em anos recentes prosperou no Brasil um novo movimento político-social: o bolsolavismo. Uma ideologia que confronta a ciência, ignora preceitos constitucionais, tensiona o pacto federativo, flerta com o autoritarismo e o arbítrio, ameaçando o estado democrático de direito. Nasceu no populismo da extrema direita, idealizado pelo guru do presidente, o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, numa concepção de mundo exclusivista. Rejeita o diálogo com a sociedade pluralista, negando espaço para quem pensa diferente.
Seus líderes adotam a prática política do confronto. Defendem o anti-intelectualismo, popularizando paixões negativas, fazendo uso massivo do ambiente das redes sociais para alimentar o discurso radical da rivalidade e do negacionismo. Seus militantes, com atuação espontânea ou profissional, não se importam com o vazio propositivo das ideias propagadas. Pregam falsamente o resgate tradicionalista da sociedade e tentam construir um reacionarismo militarista religioso, ainda que deixem explícitas contradições nas atitudes políticas.
Não se inibem em manifestar posicionamentos antagônicos à institucionalidade definida a partir da Carta Magna de 1988. São saudosistas do regime autoritário que vivemos ao tempo em que estivemos sob a égide de uma ditadura militar. Acreditam na escolha de um líder com áurea religiosa, com investidura divina. Estimulam a guerra cultural pautada em espectros ideológicos. O fanatismo político se instrumentaliza na adoção de preconceitos fundamentalistas.
O bolsolavismo conseguiu ser inflado pelas circunstâncias, ocupando um vácuo político-ideológico. Entretanto, chegando ao poder gerou lutas intestinas que vêm produzindo uma visível redução da base social que elegeu o atual presidente. A disputa interna vem afastando do seu campo de apoio a direita não alinhada ao olavismo. Muitos dos que votaram em Bolsonaro, não aceitam seguir a orientação política da celebridade intelectual Olavo de Carvalho, e rejeitam a autoridade que ele exerce junto ao núcleo ideológico instalado no governo. O bolsolavismo parece experimentar um processo autodestrutivo. Impossível implementar um projeto de conciliação nacional amparado no ideário olavista.
O nacionalismo histérico se assemelha ao discurso fascista. Porém, as milícias virtuais começam a perder força. Os adversários do bolsolavismo já não se restringem aos comunistas, esquerdistas, ou outros rótulos atribuídos a todos os que não votaram no presidente eleito. A opinião pública busca sair das bolhas ideológicas de extrema, tanto da direita, quanto da esquerda. A oposição ao bolsolavismo se fortalece nessa compreensão da necessidade de fugir ao radicalismo ideológico e afastar-se da tentação autoritária que ronda a democracia brasileira.
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