PENSAMENTO PLURAL O drama diário da fome, por Riu Leitão
Os números impressionam. São mais de vinte milhões de brasileiros com fome, conforme a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania Segurança Alimentar. Lembra o escritor e historiador Rui Leitão, como o País era até pouco tempo referência no combate à fome. “Incompreensível que o Brasil sendo um país rico na produção de alimentos, veja que um número crescente da população esteja convivendo com o drama diário da fome”, lamenta. Confira a íntegra de seu comentário…
É muito triste observar que as imagens da fome estão voltando ao noticiário nacional. Enormes filas se formaram recentemente em frente a um supermercado em Cuiabá, Mato Grosso, para receberem ossos. No Rio de Janeiro, os cariocas agiram da mesma forma procurando adquirir pelancas descartadas. Em Fortaleza, no Ceará, a população pobre procura restos de alimentos em caminhões de lixo. Este é o cenário trágico e cruel que se apresenta no Brasil atual.
São mais de vinte milhões de brasileiros com fome, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nacional (Penssan). Estamos observando famílias inteiras entrando aceleradamente em situação de extrema pobreza. A Oxfam – organização internacional que atua no combate à pobreza , desigualdade e injustiça social, já classifica o Brasil como um dos focos emergentes de fome no mundo, ao lado da índia e da África do Sul. Verifica-se o menor consumo de carne bovina em 26 anos.
O poder de compra do auxilio emergencial, se considerarmos o valor que vinha sendo pago, não é suficiente sequer para adquirir uma cesta básica, em razão da alta da inflação. As necessidades da população são cada vez mais básicas. O desemprego e o preço dos alimentos nas alturas fazem com que se acentue esse quadro extremamente preocupante.
O Brasil até pouco tempo era referência mundial no combate à fome. O programa Fome Zero é apontado como um dos mais bem sucedidos exemplos de combate à insegurança alimentar no planeta. Na década passada estávamos fora do mapa da fome, uma vez que era irrelevante o número de famílias que estavam sofrendo deficiência alimentar.
Incompreensível que o Brasil sendo um país rico na produção de alimentos, veja que um número crescente da população esteja convivendo com o drama diário da fome. Percebe-se a incapacidade do governo investir em estoques reguladores. Não há políticas de estímulo à agricultura familiar, preferindo financiar o agronegócio que prioriza a produção de comodities para exportação. Vendemos para o exterior os alimentos aqui produzidos, que voltam com preço em dólar, logicamente, muito mais caros. É constrangedor, para todos nós brasileiros, aceitar passivamente que muitos dos nossos compatriotas durmam na incerteza sobre o que terão de comer no dia seguinte, encarando o problema como meros expectadores, como se não tivéssemos nada a ver com isso.
A fome dói. Não é possível que continuemos inertes ao sofrimento de tantos brasileiros. É dever de todos, a partir das autoridades governamentais, encontrar formas de enfrentar essa gravíssima crise humanitária, buscando fazer o possível para que cada ser humano possa ter garantido o direito sagrado de não passar fome. É também uma questão de solidariedade.
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