Em sua mais recente crônica, “O elevado custo do voto errado”, o escritor Rui Leitão reflete sobre a importância do correto nas eleições, e alerta como “não admitir que errou quando o óbvio da incompetência, do despreparo ou da desonestidade já não deixa dúvidas, é falha no exercício da cidadania”. Lembra Rui como toda sociedade paga um preço elevadíssimo quando elege maus políticos, que só trazem infortúnio aos cidadãos. Confira a íntegra de seu comentário:
Todos nós, em algum momento da vida, já demos um voto que no futuro percebemos ter sido um erro. É normal. O marketing eleitoral existe para isso, nos convencer de qualidades que determinado candidato demonstra possuir e que, na verdade, é um engano planejado. Não admitir que errou quando o óbvio da incompetência, do despreparo ou da desonestidade já não deixa dúvidas, é falha no exercício da cidadania. Em sendo um ato humano, a prática do voto sofre pressões e influências que nem sempre identificamos no calor emocional e apaixonado de uma campanha. Não damos a importância da necessidade de conhecermos o passado do postulante ao cargo eletivo, nem nos preocupamos em conhecer, a fundo, as suas propostas de atuação quando consagrado nas urnas.
A escolha é uma atitude primária que cada indivíduo livremente estabelece, guiado por seu arbítrio ou por motivações alheias à lógica. Os interesses particulares ou pertencentes a grupos dos quais participamos, nos induzem a optar por preferências, muitas vezes, inconsequentes. Quando percebemos o equívoco, o estrago já está feito. Como diria o velho ditado popular “agora é tarde, Inês é morta”. O custo do voto, no momento em que ele é exercido na cabine eleitoral, é baixíssimo. Porém, quando a definição individual se soma a uma maioria que se formou, ela passa a produzir efeitos de impacto na nossa vida. A sociedade, como um todo, sofre com um resultado que não correspondeu às expectativas eventualmente majoritárias.
Nem digo que o voto iludido terá sido sempre uma ação inconsciente. Não. Muitos votam porque acreditaram no programa apresentado pelo candidato selecionado mediante seus desejos e valores. Aquela velha estória do posicionamento determinado pela boa fé. Alcançados precipitadamente na crença de que estavam fazendo uma aposta acertada. Na democracia o voto é um direito valiosíssimo.
Muito pior seria se não nos fosse dada a oportunidade de fazermos as escolhas de nossos representantes nas funções executivas e no parlamento. O voto, portanto, é uma arma muito poderosa, desde que bem exercido. É assim que a população procura interferir na definição do que possa acontecer no seu futuro. Na expectativa de que o candidato em que está depositando sua confiança, saiba o valor inalienável das prerrogativas que o povo decidiu lhe outorgar como seu representante na defesa daquilo que for de interesse público.
O eleito ganha um mandato que dificilmente perderá. Ainda que as promessas de campanha sejam desmentidas ou descumpridas. A decepção do eleitor ao ver que os mandatários de plantão estão no caminho errado, é o primeiro sinal de que foi vítima de um ludibrio eleitoral. O que resta a esse cidadão que, de repente, se viu flagrado num desacerto político? Admitir que se enganou e rever com mais cuidado seus posicionamentos, de forma a que na próxima eleição não cometa o mesmo erro. Quando isso não acontece, inobstante todas as evidências da falha incorrida, passa a ser uma questão irracional ditada pelo fanatismo ou exacerbada paixão partidária ou ideológica. E o custo desse desvio de consciência cívica passa a ser muito elevado para a sociedade da qual faz parte. Mas, nunca é fora de tempo promover correção de rumos, tendo a humildade de redirecionar posturas e pensamentos na busca de remediar danos causados por uma disparatada escolha política.
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