PENSAMENTO PLURAL O Fim dos donos da verdade: a democratização da informação na Era Digital, por Emir Candeia

Comentários do escritor Palmarí de Lucena seguem inspirando leitores do Blog. O professor Emir Candeia envia texto, segundo ele, baseado no artigo escrito por Palmari, intitulado “Domínio sem mandato”, neste espaço reservado ao pensamento plural de quem deseja se expressar. E pontua, sobre seu texto, Emir: “Aqui, entro com uma visão otimista, baseada no ponto que você (Palmarí) levantou.” Confira íntegra…

Hoje, graças à internet e à inteligência artificial, o poder da informação foi pulverizado. Um adolescente em uma cidadezinha no interior do Brasil, um pastor no Quênia ou um indígena na Amazônia tem acesso, pelo celular, a mais informações do que um professor universitário ou intelectual dos anos 1970.

Antes, os “donos da verdade” — intelectuais, escritores, jornais, governos — controlavam o que era publicado, transmitido, debatido. Era um funil: poucos produziam, muitos consumiam. Agora, virou uma rede: qualquer um produz, consome e responde. A imprensa perde o monopólio da caneta, e todos ganham a sua própria.

Hoje, um pequeno produtor de conteúdo pode viralizar e ter mais impacto do que um jornal tradicional; um blogueiro pode ter mais audiência que um canal de TV; um político pode ter mais seguidores que o presidente da república. Um cidadão comum pode fiscalizar o governo, denunciar injustiças, encontrar aliados em causas globais — algo impensável no tempo em que o petróleo era símbolo máximo de poder.

Além disso, países desprovidos de recursos naturais, como Japão, Alemanha, Suécia, mostram que o verdadeiro motor do poder moderno é o conhecimento, a tecnologia, a inovação — não a matéria-prima.

Palmarí acerta ao alertar para os riscos do domínio digital: sim, Big Techs exercem um poder imenso, opaco e sem mandato. Mas não se deve subestimar o lado democratizante das novas tecnologias. O mesmo algoritmo que espalha fake news também espalha denúncias; o mesmo Facebook que hospeda desinformação também dá voz a protestos contra regimes autoritários.

Em resumo: antes, a informação era concentrada nas mãos de poucos; hoje, é fluida, descentralizada, difícil de controlar. Isso não significa ausência de poder — significa que agora todos jogam o jogo, não apenas os “donos da caneta”.

Por muito tempo, controlar a informação era controlar o poder. Intelectuais, artistas, jornais e grupos políticos formavam uma muralha: produziam, filtravam e distribuíam o que a sociedade podia ler, ouvir e debater. O acesso ao conhecimento era privilégio, não direito.

Hoje, isso mudou radicalmente. Com a internet e a inteligência artificial, vivemos a pulverização do poder informacional. O smartphone e a conexão móvel se tornaram armas democráticas.

O domínio antes exercido por tanques e contratos agora passa por servidores e algoritmos. Mas o lado democratizante é inegável. O mesmo algoritmo que espalha desinformação também conecta movimentos sociais e derruba barreiras culturais.

Os antigos donos do conhecimento perderam o monopólio. Agora precisam disputar espaço com vozes antes silenciadas. O velho modelo — imprensa decidindo a pauta, intelectuais ditando saber, governos controlando narrativas — está ruindo.

Antes, só narradores tinham microfone; hoje, cada torcedor carrega um megafone. O barulho é maior, mais confuso, mas também mais plural. Isso não elimina os riscos, apenas torna o jogo mais complexo.

A questão não é apenas vigiar ou regular as plataformas — é garantir que essa nova era de acesso irrestrito continue servindo à emancipação, não ao controle. O desafio é reconhecer: nunca houve tanta gente no jogo. E isso, por si só, já é revolucionário.

 

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