PENSAMENTO PLURAL O irracionalista sectário, por Rui Leitão
Em sua mais recente crônica, o escritor e historiador Rui Leitão postula como “o sectário, seja qual for a posição ideológica em que se coloque, tem o fanatismo como uma de suas características de comportamento, e, por isso mesmo, sofre seus efeitos alienantes”. Com base nesta assertiva, Rui lembra como a radicalização sectária não se coaduna com os princípios democráticos, que pressupõem a diversidade de pensamento e expressão. Confira a íntegra de comentário…
Começo com um pensamento de Paulo Freire. “A sectarização tem uma matriz preponderantemente emocional e acrítica, por isso é irracional. É arrogante, antidialogal e por isso anticomunicativa”. O sectário, seja qual for a posição ideológica em que se coloque, tem o fanatismo como uma de suas características de comportamento, e, por isso mesmo, sofre seus efeitos alienantes. Se fecham em suas verdades, não admitindo contestações.
Se firma em crenças racionalmente infundadas. Nem se preocupa em buscar compreendê-las. Incorpora elementos irrefletidos da vida comum como sendo teses irrefutáveis. E faz isso em atendimento a conveniências próprias ou de grupos a que decidiu participar. As teses que radicalmente defende não são determinadas pelo raciocínio ou argumento lógico. Recusa enxergar certezas cotidianas, porquanto movido por paixões que cegam.
Integrante do que se possa chamar “seita”, submete-se à inércia mental. Os projetos de vida pessoal preponderam, orientando conduta e convicções adequadas aos seus interesses. É sempre dependente de sensações que sobrepujam a ciência e a reflexão racional. Afasta-se perigosamente de uma compreensão fidedigna da realidade, ao observar que contraria seus objetivos imediatos. Chega a considerar, muitas vezes, a razão como inimiga da vida que projetou para si.
A radicalização sectária é uma manifestação ideológica que não se harmoniza com princípios democráticos. Evidencia-se através dela um viés reacionário e autoritário. Foge da batalha das ideias e se recusa a exercitar a autocrítica. Daí a sua rejeição veemente às mudanças, ao contraditório, às transformações que possam alterar seu modo de pensar. A valorização da imediaticidade fortalece a determinação em se negar a fazer reflexões e assimilar ideias revolucionárias. Insiste em tergiversar sobre os problemas postos pela realidade.
O irracionalismo fabrica “mitos” que se opõem ao conhecimento científico e pratica o negacionismo, intencionalmente produzindo um clima de ceticismo generalizado. A radicalização irracional, faz uso oportunista da mentira, fomentando extremismos. O sectário é, por conveniência, um mercador de dúvidas.
Shekespeare certamente perguntaria a esses irracionalistas radicais da contemporaneidade brasileira: “Oh, paixão, que fazes com meus olhos que não enxergam o que vêem?”.
(Imagem: Louise Williams)
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