PENSAMENTO PLURAL O protagonista invencível: por que alguns vencem sem freio, por Emir Candeia

Em seu comentário, o professor Emir Candeia reflete sobre um determinado tipo de personagem, que se apresenta sempre como um protagonista invencível, “por que alguns vencem sem freio, e o preço que cobram, um caso real” Ele não é, necessariamente, o mais competente, nem talvez o mais ético ou equilibrado, “ele simplesmente não desiste, nunca”. Segundo o autor, este texto foi escrito “em momentos de reflexão sobre pessoas com quem conviveu, e este artigo é sobre uma delas. Você consegue identificar uma que se parece com esse texto?” Confira íntegra…

Existe um tipo de vencedor que não é, necessariamente, o mais competente. Nem o mais ético. Nem o mais equilibrado. Mas ele tem uma característica que, na prática, derruba muita concorrência: ele simplesmente não desiste.

Esse personagem vive como se a vitória fosse um destino. “Se dá para pensar, dá para fazer” não é motivação; é identidade. E essa identidade cria um efeito curioso: obstáculos continuam existindo, mas muitos deixam de ter poder psicológico sobre ele — especialmente os obstáculos autoimpostos, aqueles que travam a maioria das pessoas: dúvida, vergonha, medo de errar, necessidade de aprovação, culpa antecipada, preocupação exagerada com a opinião alheia.

O protagonista é invencível é se recusa considerar uma derrota. Para ele, fracassar não é um resultado possível; é uma ofensa . Por isso, quando tudo aponta para o errado, ele faz o que poucos conseguem: continua.

Essa teimosia pode parecer irracional. E muitas vezes é. Mas ela funciona como um “escudo” contra o desgaste emocional. Enquanto outros param para analisar, recalcular, justificar ou esperar o momento perfeito, ele empurra a porta repetidas vezes até que uma delas abra.

Se houver falha, muda a fachada e tenta de novo; ouve cem “nãos” e trata como estatística; se perde apoio, troca o discurso e segue com a mesma fome; se é rejeitado e continua expondo até alguém notar. O mundo recompensa volume de tentativas. E ele joga nesse modo.

Ele alimenta a própria imagem, reforça internamente que é “especial”, “feito para isso”, “excepcional”. Esse sentimento de destino manifesto é o que dá energia em dias em que qualquer pessoa racional recuaria.

E há um segundo efeito: pessoas ao redor tendem a ceder. Não porque concordem, mas porque querem “seguir em frente”. A presença dele cria pressa, constrangimento e uma sensação de inevitabilidade. Ele empurra o ambiente para girar no ritmo dele.

Só que essa força costuma vir com um defeito grave: o protagonista invencível frequentemente trata os outros como personagens secundários. Quem é útil entra no enredo; quem não é, some. Relações viram peças. Lealdade vira conveniência. E, se for preciso descartar alguém para manter a marcha, ele descarta. Eles não carregam o freio moral que desacelera a maioria.

Eles tomam decisões sem o peso do arrependimento, sem a pausa da empatia, sem a exigência de coerência.

E “nunca parar” tem um benefício oculto: não existe o momento de olhar para trás. Sem pausa, não há prestação de contas. Sem pausa, não há pedido de desculpas. Sem pausa, não há reconhecimento de fragilidade.

Para ser “tão bem-sucedido quanto ele”, a receita emocional seria quase anti-humana: nenhuma autoanálise, nenhuma dúvida, nenhuma admissão de fraqueza, nenhum arrependimento.

Ele acredita que pode fazer qualquer coisa, e que nada o impedirá. E acredita também em uma lógica perigosa: não importa estar certo agora; a vitória futura provará que ele estava certo. Porque, no final, “quem venceu” reescreve a história.

Aqui está o ponto mais difícil de negar: no mundo real, muitas vitórias vêm de insistência, não de virtude. Os “vencedores” frequentemente são aqueles que toleram mais rejeição, suportam mais caos, atravessam mais atrito — e seguem tentando quando todo mundo já parou.

A verdade genial e insana por trás do protagonista invencível. A coragem de insistir, a tolerância ao erro, a blindagem contra a opinião alheia, a disciplina de continuar.

Mas precisa adicionar o que ele não tem: método, feedback real, responsabilidade, reparo de danos, respeito por pessoas que não são “cenário”.

Ele é determinado — mas humano o suficiente para não destruir o caminho.

Escrito por Emir Candeia Gurjão, em momentos de reflexão sobre pessoas com quem conviveu, e este artigo sobre uma delas, você consegue identificar uma que se parece com esse texto? Campina Grande, 07:25 horas dos dia 28 de Dezembro de 2025.

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