PENSAMENTO PLURAL Os 80 anos da Academia Paraibana de Letras, por Evandro Nóbrega
A Academia Paraibana de Letras está comemorando seus 80 anos de fundação, transcorridos a 14 de setembro próximo passado.
Aprouve ao destino que tais comemorações caíssem na gestão presidencial da extraordinária figura que é a professora, escritora e crítica literária Ângela Bezerra de Castro, atual acadêmica-mor, se assim podemos nos referir à atual presidente da instituição.
Outra circunstância também altamente auspiciosa: a FUNDAJ (Fundação Joaquim Nabuco), decidiu prestigiar, com toda a sua força cultural e em toda linha, esses 80 janeiros de instalação da Academia paraibana.
ODILON CONTINUA AJUDANDO
Sabe-se a origem deste belo e generoso gesto dos atuais dirigentes da FUNDAJ. Foi a professora Ângela Bezerra de Castro quem organizou, elaborou e lançou há tempos uma edição póstuma com ensaios escritos por nosso incomum amigo comum Odilon Ribeiro Coutinho. A bem cuidada edição agradou sobremaneira ao Conselho da Fundaj, de que Odilon fora um dos mais ilustrados e influentes diretores.
Agora — sem que fosse preciso surdir qualquer apelo from nossas plagas —, a Fundação recifense, desse jeito perfeitamente magnânimo, vem em peso ajudar a professora Ângela, cuja dedicação à APL em particular e à Cultura paraibana em geral é pública e notória.
Quer dizer, o saudoso acadêmico Odilon Ribeiro Coutinho prossegue auxiliando a APL, de lá mesmo, do Primeiro Andar… E, pelas considerações acima transcritas, vê-se claramente que, não fora a Academia Paraibana de Letras dirigida na atualidade pela extraordinária figura da professora Ângela Bezerra de Castro — e não haveria este espontâneo, importante e tocante apoio de toda a Diretoria da FUNDAJ, representada por seu presidente Antônio Campos.
CARLOS DIAS FERNANDES
Outra coisa supimpa: das oito conferências programadas para essas comemorações dos 80 anos da APL, uma é sobre o notável escritor, poeta, jornalista e “enfant terrible” paraibano Carlos Dias Fernandes, mamanguapense cujo gênio por uns tempos iluminou o Norte, o Nordeste e o Sudeste do país.
E será uma palestra/estudo a cargo da escritora, cronista e acadêmica Maria das Graças Santiago, admiradora incondicional de CDF, sobre quem o autor das presentes linhas está concluindo modesta obra, a sair em 2022 pela Ideia Editora, de nosso bom amigo e editor Magno Nicolau.
ABRINDO AS COMEMORAÇÕES
No discurso que elaborou para dar início às festividades pelos 80 anos da APL, a presidente Ângela Bezerra de Castro referiu-se à Casa de Coriolano de Medeiros como “sonho de intelectuais visionários que, através dos tempos, se concretizou na sólida Instituição de Utilidade Pública, reconhecida por sua positiva e valiosa interferência, na cena cultural da Paraíba”.
— Para comemorar seus 80 anos, completados no dia 14 de setembro, próximo passado (continuou a professora Ângela), a APL recebe da Fundação Joaquin Nabuco, destacada instituição cultural nordestina e brasileira, o apoio que siginifica, sobretudo, o reconhecimento de nossa tradição intelectual e o elevado espírito de contribuir para que essa data seja não apenas celebrada, mas perenizada e divulgada, em publicações virtuais de longo alcance, como também na forma impressa do livro, o suporte de uma civilização.
UM PATRIMÔNIO DE VALOR INCALCULÁVEL
Para a escritora, professora, crítica literária, latinista e acadêmica Ângela Bezerra de Castro, esses 80 anos “constituem um marco simbólico, tanto para os indivíduos, quanto para as instituições. Representam uma vitoriosa linha de chegada, pelo que implicam de luta e de resistência no longo percurso. Pelo que representam de acúmulo, como saldo de todos os desafios ultrapassados”.
— O que me parece justo destacar, na existência da APL — prosseguiu a presidente Ângela — é o idealismo dos que a mantiveram até aqui, motivados pelos objetivos que cumpre alcançar. Cultivar, preservar e divulgar a cultura, um compromisso que une gerações de ontem, de agora e sempre, pois não existe limite fixado para o término dessa construção coletiva. Um patrimônio de valor incalculável, para que o futuro não seja desprovido de raízes e de memória.
“ESTA É A CASA DE MEUS MESTRES”
Nessa sua alocução, a professora Ângela relembra que, em seu discurso de posse, denominou a APL de “casa dos meus mestres” — e é assim que ainda a vê.
Entre esses mestres, citou os saudosos acadêmicos Oscar de Castro, Flósculo da Nóbrega, Clóvis Lima, o padre Luiz Gonzaga, Afonso Pereira e Juarez da Gama Batista, os quais “permanecem para mim como referências de imortalidade”.
PARA ETERNIZAR O ESPÍRITO ACADÊMICO
Ressaltou ainda a presidente Ângela Bezerra de Castro que, há mais de meio século, atenta às sábias lições desses “imortais” paraibanos, “era impossível imaginar que os 80 anos dessa Casa das Letras seriam comemorados no decorrer de meu mandato como Presidente da Casa — e na mesma cadeira ocupada pelo mestre Oscar de Castro [seu tio], ao longo de 25 anos. Não por vaidade ou ilusão de poder. Mas por devotamento, para que não morresse o espírito acadêmico.”
E foi assim, no dizer da atual presidente da Academia, que o então presidente Oscar de Castro “fixou as raízes da APL, conquistando sua sede própria e criando a Revista [da Academia] que continuamos a editar”. Portanto, “na figura ímpar do mestre Oscar de Castro reverencio todos os acadêmicos do presente e do passado, nesta data histórica. A identidade da APL é o somatório da expressão intelectual de cada um.”
QUEM É O PRESIDENTE ANTÔNIO CAMPOS
A professora Ângela também agradeceu ao presidente da FUNDAJ, o escritor Antônio Campos, “pela iniciativa de transformar a Fundação Joaquim Nabuco em anfitriã do aniversário de 80 anos da APL, através da celebração da memória cultural que agora se inicia, na palavra dos acadêmicos conferencistas. E na intepretação de cada ilustre paraibano, por eles escolhidos”.
Sobre as relações entre a APL e a FUNDAJ, diz o presidente deste Fundação pernambucana com atuação regional e nacional: “A relação entre Pernambuco, onde está sediada a Fundação Joaquim Nabuco, e a Paraíba, que sedia esta Academia de Letras, não é recente. Para além dos episódios históricos que partilhamos, se evocarmos a Literatura, é sabido que fomos o solo firme para nomes e gerações que vão de Augusto dos Anjos até Ariano Suassuna. Por isso, trazemos um sentimento familiar com essa parceria. Sentimos que estamos em casa.”
Em tempo: o atual presidente da FUNDAJ — o advogado, escritor e poeta Antônio Campos, também especialista em Direito Empresarial, Direito Público e Direito Eleitoral — é um dos criadores da FLIPORTO (Festa Literária Internacional de Pernambuco) e integra não somente a Academia Pernambucana de Letras, como também a Academia de Artes e Letras de Pernambuco. Autor de livros, artigos jurídicos e literários publicados em periódicos, revistas e jornais de Pernambuco e de outros Estados da Federação, foi ainda conselheiro federal da OAB e é detentor de vários títulos e distinções.
A IMPORTÂNCIA DAS ACADEMIAS
Já o escritor e jornalista Mário Hélio Gomes, diretor da DIMECA/FUNDAJ (Divisão de Memória, Educação, Cultura e Arte, órgão da própria Fundação Joaquim Nabuco), a responsabilidade das Academias ultrapassa a mera seleção de seus acadêmicos.
— As Academias têm uma aura e um simbolismo que as fazem desejáveis menos por causa da imortalidade, que desde a Antiguidade é uma esperança dos poetas e dos religiosos, e mais pela consciência de pertencimento.
E explica ele: “Seja um médico, um jornalista, um historiador ou um representante de qualquer outra profissão, o reconhecimento que se obtém, ao integrar uma academia, é o da eleição para o convívio em torno das boas ideias, transformadas em livros e ações de alto interesse coletivo”.
O QUE É A FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
Se Você não tem muitas informações sobre a FUNDAJ, fique sabendo do essencial: sediada em Recife, capital pernambucana, a instituição vincula-se diretamente ao Ministério da Educação, tendo sido fundada em 1949.
Seu objetivo é desenvolver projetos que explorem a interdependência entre Educação e Cultura, integrando suas múltiplas competências e articulando-se em redes de Conhecimento.
UM POUCO SOBRE A ACADEMIA PARAIBANA
A Academia Paraibana de Letras foi fundada em 14 de setembro 1941. Ao completar seus 80 anos de fundação, a APL vê-se dirigida por uma mulher, pela primeira vez em sua história. Num amplo texto largamente divulgado no ciberespaço pela própria FUNDAJ, lê-se que:
“[…] primeira mulher a presidir a Academia Paraibana de Letras, a professora, escritora e crítica literária Ângela Bezerra de Castro recorda os momentos históricos em que esteve presente junto à entidade, como é o caso da posse de Ariano Suassuna na Cadeira nº 35, no Teatro Santa Roza. Admiradora e amiga, ela acompanhou o escritor de mãos dadas durante sua entrada na solenidade. Amizade que surgiu da paixão dos dois pelo poeta lusitano Luís Vaz de Camões e que ficaria eternizada na obra póstuma do paraibano, ‘A Ilumiara: Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores’ (Nova Fronteira, 2017).”
E prossegue o texto da FUNDAJ: “Professora por vocação desde os 19 anos, Ângela Bezerra de Castro também narra sua vida permeada pelas Letras e pelo Ensino — como a participação na Campanha de Educação Popular da Paraíba, em 1962, um marco do ensino de jovens e adultos. Não por acaso, Ângela se autodenomina uma batalhadora pelo ensino da leitura, o que a transformou numa crítica literária. Hoje, é a primeira mulher a presidir a Academia Paraibana de Letras, um acontecimento histórico, sem dúvida — especialmente numa instituição em que, de suas 40 Cadeiras, apenas cinco estão ocupadas por mulheres”.
DUAS JORNADAS COM OITO CONFERÊNCIAS
Abertas com esse pronunciamento da presidente Ângela, as comemorações prosseguem, “online”, nos dias 23 e 24 deste mês de setembro, no circuito de conferências denominado “Celebração da Memória Cultural”, em transmissão pelo canal da FUNDAJ no Youtube. As intervenções e conferências programadas são as seguintes:
Dia 23 de setembro de 2021 (quinta-feira):
9h30m: Abertura – Lançamento das celebrações da Academia Paraibana de Letras, em seus 90 anos, pelo presidente da FUNDAJ, Antônio Campos; pela presidente da APL, Ângela Bezerra de Castro; e pelo diretor da DIMECA/FUNDAJ, Mário Hélio Gomes.
10h: “O Governo cultural de Tarcísio Burity” (Conferencista: Luiz Gonzaga Rodrigues, jornalista e cronista)
14h: “Juarez da Gama Batista – Erudição e ousadia no ensaio literário” (Conferencista: Ângela Bezerra de Castro, professora, crítica literária e presidente da APL)
16h: “Sebastianismo – Morte e sangue em Pedra do Reino” (Conferencista: Luiz Nunes Alves, escritor e poeta, também conhecido, no campo da Poesia Popular, pelo pseudônimo de Severino Sertanejo)
18h: “Augusto dos Anjos – Teleologia sem princípios” (Conferencista: Mílton Marques Júnior, professor e escritor).
Dia 24 de setembro de 2021, sexta-feira:
9h30m: “Marcus Tavares reinventa a seriedade pela zombaria” (Conferencista: Sérgio de Castro Pinto, poeta e professor de Literatura)
11h: “Carlos Dias Fernandes – Mitos e verdades” (Conferencista: Maria das Graças Santiago, professora, escritora, cronista e acadêmica)
14h: “A Cultura na obra de Celso Furtado” (Conferencista: Francisco Sales Gaudêncio, historiador)
16h: “Oscar de Castro, o primeiro sócio da APL” (Conferencista: Severino Ramalho Leite, jornalista e advogado).
As solenidades programadas pela APL e pela FUNDAJ com vistas às comemorações desses 80 anos, nesta “Celebração da Memória Cultural”, recebem o patrocínio do Ministério da Educação e do Governo Federal.