PENSAMENTO PLURAL Os trapaceiros, por Gal Gasset
A cronista Gal Gasset inspira-se nas ideias do americano Saul Alinsky para lembrar como muitos políticos, quando flagrados em delito, “nunca admitem culpa”. Pelo contrário, “alegam inocência e se dizem vítimas de perseguição política”. Dentro dessa linha de raciocínio, é possível traçar um paralelo com o que ocorre na Paraíba, na perspectiva da última denúncia do Gaeco contra “o ex Ricardo Coutinho e mais doze agentes radicais” aos quais foram imputadas “diversas tipologias penais derivadas de atos de corrupção”. Confira a íntegra do comentário:
O americano Saul Alinsky [1909-1972] influenciou sobremaneira a New Left. O termo Nova Esquerda é contraditório, pois o esquerdismo nunca é novo. O marxismo, uma das vertentes do esquerdismo, foi reinventado pela Escola de Frankfurt e por Antônio Gramsci. Como um camaleão, a ideologia esquerdista tem uma capacidade incrível de se ajustar ao meio em que se insere. Ato contínuo, a Esquerda revigorou-se mais uma vez, nos EUA, pelas mãos de Alinsky.
O manual de Alinsky, “Regras para Radicais” (1971), embora lançado há décadas, não foi traduzido no Brasil, sendo então pouco conhecido. No entanto, os seus 13 mandamentos são amplamente utilizados pela esquerda caquética – desculpem o pleonasmo. O livro expõe claramente as táticas para um esquerdista pragmático crescer politicamente usando todos os meios, para o alcance dos fins almejados. Esses fins se traduzem no poder, pelo poder, e na consequente manutenção desse poder, “ad infinitum”.
Saul Alinsky atribuiu a si a alcunha de radical, mas não era um extremista, e sim um social-democrata. Ele não acreditava que a revolução incendiária seria a melhor maneira de se chegar ao poder. Sua proposta consistiu na mudança gradual, feita pelos mecanismos institucionais regulares. Seria mais apropriado entrar nas instituições, corroendo-as por dentro, até implodi-las. Os alinskyeistas se infiltraram discretamente no meio acadêmico, na imprensa, nas igrejas e no governo.
O estrategista Alinsky fundou pessoalmente 44 ONGs (outro paradoxo, pois vivem de recursos governamentais). Essas entidades são o coração do esquema de Alinsky. Só em uma delas formaram-se 40 mil ativistas. Hillary Clinton é tão entusiasta de Alinsky que escreveu uma tese sobre ele. Barack Obama estudou nessas escolas, sendo advogado da causa posteriormente. Quando esses adeptos ocuparam a presidência americana, verbas generosas foram destinadas às associações de Alinsky.
Um ponto fulcral do alinskyeismo é a desinformação. Nesse modelo, nunca se diz o real objetivo do agente radical. Por exemplo, nas campanhas eleitorais são mostrados projetos de bondades e de progresso. Mas, quando no exercício de cargos eletivos, os jogos de interesses escusos dominam a agenda política. Ainda que sejam pegos em ações espúrias, os radicais nunca admitem a culpa. Ao contrário, alegam inocência e se dizem vítimas de perseguição política. É bem verdade que isso não é exclusividade dos radicais, mas estes o fazem sem o menor constrangimento.
Na obra de Alisnky, é digno de nota a dedicatória que ele fez a Lúcifer, o anjo caído. Para ele, Satã, o primeiro radical, foi um rebelde que desafiou o establishment e fez seu próprio reino, o inferno. Trazendo as lições de Alinsky para a realidade local paraibana, tem-se a percepção de que um inferno foi implantado no paraíso natural. O roubo do dinheiro do público foi tão substancial, e com efeitos tão devastadores, que parecem obras luciferinas. Recentemente, o Ministério Público (PB) fez a quinta denúncia contra o grupo político esquerdista e socialista “Girassol”, que dominou e continua dominando a máquina estatal.
Na acusação apresentada pelo GAECO/MPE, o ex Ricardo Coutinho e mais doze agentes radicais são imputados de diversas tipologias penais derivadas de atos de corrupção. O poder coercitivo requer a devolução de R$ 6.597.156,19 (6,6 milhões), correspondentes ao que foi desviado ilicitamente do tesouro, na forma de taxa de administração irregular, pagamento de bens e serviços não fornecidos e desvios do contrato de gestão hospitalar com a Cruz Vermelha (ONG brasileira).
Conforme São Tomás de Aquino [1225-1274], o mal não é um ente em si, mas um déficit de finalidade. Esses agentes do radicalismo adotam práticas que se travestem de ações positivas, como a gestão de hospitais e escolas. Na realidade, usam essas estruturas somente para praticar o mal. São imitações de trabalhos divinos, que na prática servem para se locupletar no materialismo pervertido. Afinal, se Deus está morto, ou ainda, se a Lei não os alcança, então tudo é permitido.
(Imagem: Os Trapaceiros [1594], de Caravaggio [1571-1610]).
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