PENSAMENTO PLURAL Perigos escondidos no ar que respiramos, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena observa como, apesar do avanço da pandemia, com o incremento do número de casos, ainda há quem negue certos cuidados básicos como o uso de máscaras, para prevenir o contágio. “ A comunidade científica afirma categoricamente que a máscara e distanciamento social ainda são as únicas maneiras de salvaguardar-nos dos patógenos das gotículas no ar”. Confira a íntegra do comentário…
Entoando canções militares, bombeiros correndo em formação compacta sem aparentar preocupação ou cuidado com partículas minúsculas de respiração produzidas pelo esforço físico ou a proximidade de seus companheiros. Vírus desafiando a disciplina castrense, celeridade da marcha e ausência de máscaras protetoras. Grupos de pessoas, na maioria jovens, caminhavam ou corriam indiferentemente sem proteção para gotículas exaladas por seus pares, enquanto isso, idosos incrédulos, temerosos e solitários tentavam preservar a esperança de vida se protegendo com máscaras dos perigos escondidos na atmosfera poluída por vírus mortais.
Na Gripe de 1918, proponentes da chamada Teoria do Miasma lideradas pela enfermeira americana Florence Nightingale, defendiam veementemente a ideia de que doenças se espalhavam através de “ar ruim”, produzido por matéria em decomposição e sujeira. Tanto o entusiasmo como a teoria estavam mal direcionados quando se tratava de patógenos como a cólera ou a febre amarela, que hoje sabemos serem transmitidos de outras maneiras. Fazendo sentido nas doenças que contagiam invisivelmente como os vírus de sarampo, tuberculose, varíola e influenza, ameaças diminuídas por formas mais eficientes de combater epidemias ou assim pensávamos, após um século de inovações e novas descobertas científicas, sem desconsiderar, no entretanto, que a mais importante de todas as proteções é o ar puro.
Meses após identificarem a nova coronavírus, autoridades sanitárias finalmente concluíram que o vírus se espalhava através de partículas suspensas no ar. Demora justificada pelo fato que a classificação de “aéreo” era usada no caso de patógenos, como o sarampo, que permanecem infecciosamente no ar por horas. Apesar de não ter a mesma característica, a covid-19 pode ser transmitida enquanto pessoas falam ou respiram, podendo perdurar entre dois e cinco metros do paciente. Em retrospecto, é impressionante como um vírus que se espalha pelo ar e afeta as vias respiratórias, demorou tanto em ter seu pedigree epidemiológico identificado e a relutância da população ao uso de máscara como proteção fundamental contra o contágio.
Resistência e negacionismo do Presidente e relevantes ministros a medidas sanitárias para o achatamento da curva epidemiológica da covid-19, relegou o País a fresta pouco invejável de ser o mais retrógrado e menos responsável no combate da pandemia, que já matou 250 mil brasileiros. A comunidade científica, por outro lado, afirma categoricamente que a máscara e distanciamento social ainda são as únicas maneiras de salvaguardar-nos dos patógenos das gotículas no ar que inalamos e outras pessoas do ar que exalamos, conhecimento adquirido no curso dos últimos cem anos. É melhor prevenir do que remediar enquanto perdura a campanha nacional de imunização.
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