PENSAMENTO PLURAL Poder versus fortuna, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena traz mais uma crônica sobre a situação da Ucrânia, tratando da situação do país invadido pela Rússia, e ainda do impacto de sanções, que seria a melhor forma de revidar a agressão russa e a possibilidade de uma trégua ou acordo de paz. Lembra, Palmarí, como o presidente Putin encontra-se numa encruzilhada, pressionado, de um lado, por uma resistência ucraniana não prevista e, de outro, pelas sanções econômicas impostas pelo Ocidente. Confira íntegra de seu comentário…
Vladimir Putin encontra-se na encruzilhada do maior desafio ao seu reino de vinte e dois anos, imprensado por uma heróica resistência ucraniana e sanções econômicas cada vez mais severas aos oligarcas, indústria de gás e petróleo e transferências de tecnologia. Repetimos a mesma pergunta feita em toda história do país, o que é mais importante para os russos: fortuna ou poder? A resposta continua a mesma: PODER.
Expectativa das democracias ocidentais sobre uma possível queda de Putin, é fruto de uma atitude equivocada sobre a Rússia ou a influência das atitudes do seu povo sobre o poder. Ausência de direitos de propriedade privada e autoridade legal imparcial, conduzem a uma situação em que atores estatais são empoderados a definir as vidas do povo russo, em toda e qualquer maneira. Além das suas fronteiras, a Rússia desde o século 15, exerce seu poder através agressão militar. Em um país onde o poder é quase tudo, sanções e fortunas perdidas não altera esta dinâmica fundamental.
Burocratas endinheirados que juraram fidelidade e financiaram a campanha de Boris Yeltsin, o predecessor de Putin, aumentaram exponencialmente suas fortunas através de concessões de maiores empresas estatais de petróleo, gás e matérias primas como níquel e alumínio. Eles continuam sendo os homens mais ricos da Rússia, porém a fonte da riqueza dos oligarcas, não é a única coisa que Putin pode controlar, poder demonstrado em ações contra aqueles que criticam o governo por corrupção, como demostrado no confisco alargado dos bens do Presidente da Yukos, o então homem mais rico do País e condenado a dez anos de prisão. Experiência que desencoraja outros a criticar as ações do mandatário russo na Ucrânia, que recentemente juntou alguns oligarcas a seus adversários no Ocidente, prometendo “cuspi-los como moscas que entram na boca”.
As únicas pessoas que podem influenciar Putin, são os ideólogos que compartilham da sua visão, os chamados “siloviki”, pessoas com força que vêm das forças de segurança ou militar, que são protetores do poder e do prestígio do País e como Putin, consideram a dissolução da União Soviética como a maior catástrofe do século 20 e que a guerra na Ucrânia é uma luta pela soberania da Rússia.
O setor de petróleo e gás financia tanto quanto 40% do orçamento federal e 60% das exportações da Rússia, daí a necessidade urgente de reduzir a dependência da Europa nos combustíveis fosseis e de aumentar cooperação na área de energia entre a União Europeia, os Estados Unidos e outras grandes economias. Em termos do poder militar, a melhor maneira de desencorajar agressão bélica russa é limitar acesso a tecnologia e equipamento militar moderno e sistemas de comunicação. Sanções bloqueando acesso as ferramentas que mantêm operações militares russas, têm maior possibilidade de influenciar os comparsas de Putin, do que sanções contra oligarcas. Talvez estas sejam as melhores opções para a OTAN, Estados Unidos, União Europeia e seus aliados.
Os textos publicados nesta seção “Pensamento Plural” são de responsabilidade de seus Autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Blog.