Em seu comentário, o escritor Palmarí de Lucena menciona, como, “durante o governo Trump, órgãos como o HHS, CDC, FDA e FEMA foram enfraquecidos por cortes, nomeações políticas e interesses privados, favorecendo pseudociência e desinformação”. E ainda: “A conivência com gurus antivacina e o desmonte da vigilância sanitária elevaram o risco global de reintrodução de doenças antes controladas, expondo a fragilidade institucional dos EUA e seus impactos internacionais.” Confira íntegra…
Sob Trump, órgãos vitais dos EUA foram esvaziados — não com escândalos, mas com silêncio institucional e o barulho ensurdecedor do negacionismo.
Nos Estados Unidos, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) e a FEMA foram criados para proteger vidas. Um, contra pandemias. O outro, contra desastres naturais. Mas, durante o governo Trump, ambos foram transformados em peças decorativas — desfiguradas por cortes, nomeações políticas e interesses privados.
Em 2018, o Escritório de Segurança em Saúde Global foi fechado. Quando a COVID-19 chegou, os EUA já estavam vulneráveis. O HHS foi ocupado por figuras ligadas à indústria farmacêutica e ao mercado de suplementos. Muitos vinham de empresas que promoviam curas “naturais” e terapias exóticas — sem qualquer base científica.
Alex Azar, ex-presidente da farmacêutica Eli Lilly, assumiu a pasta. Outros conselheiros, como Jared Kushner e Peter Navarro, endossaram tratamentos ineficazes e atuaram em favor de interesses comerciais. A sombra de conflitos de interesse pairava sobre decisões que deveriam priorizar o bem público.
O CDC — referência mundial em epidemiologia — teve relatórios censurados. A FDA, pressionada politicamente, aprovou substâncias sob suspeita. Enquanto isso, gurus antivacina ganhavam espaço, promovendo pílulas milagrosas e desconfiança contra máscaras, vacinas e ciência.
A FEMA, por sua vez, tornou-se instrumento político. Recursos eram distribuídos conforme a fidelidade dos governadores. Respiradores foram confiscados. Em 2019, parte do orçamento foi desviada para construir centros de detenção de imigrantes, em vez de fortalecer áreas afetadas por furacões e incêndios.
Mas o dano mais profundo foi moral. Especialistas foram silenciados. A ciência foi subordinada ao improviso. As instituições permaneceram — mas esvaziadas.
Pior: a erosão da infraestrutura científica nos EUA ameaça o mundo inteiro. Laboratórios enfraquecidos, vigilância sanitária em queda e o desmonte da confiança pública abrem caminho para o retorno de doenças erradicadas. O sarampo, a poliomielite e novas variantes da gripe já rondam.
Não é só problema dos americanos. A menor capacidade dos EUA de responder a crises sanitárias compromete a segurança global. O que antes era uma barreira protetora virou uma brecha epidemiológica.
No Brasil, os paralelos são inquietantes. Também vimos cientistas substituídos por militares, protocolos rasgados por vaidades e discursos anticiência dominando o debate público.
Reconstruir instituições não é só uma questão de orçamento. É uma questão de compromisso com a verdade, com a vida e com o interesse coletivo. Quando as instituições se calam — ou são caladas —, o próximo a adoecer é o próprio tecido da democracia.
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