Em sem comentário, o professor Emir Candeia critica decisões do Governo, em momento de crise, em que, em vez de cortar gastos, prefere, na verdade, aumentar impostos. “Em vez de buscar eficiência, cortar gastos desnecessários e reorganizar as contas públicas, o governo decidiu vender o que ainda resta: não vacas, mas a capacidade produtiva do povo, criando mais impostos”, postula. Confira íntegra…
Imagine um fazendeiro que possui 100 vacas. Todo ano, nascem 100 filhotes. Ele pode vender alguns desses filhotes para investir na fazenda ou cobrir despesas eventuais. Em uma emergência, pode até vender uma ou outra vaca, desde que volte ao equilíbrio depois. O que ele não pode é viver vendendo o rebanho sem planejamento, sem aumentar a produção de pasto, sem organizar os custos. Um dia, o rebanho acaba — e com ele, a própria fazenda.
O Brasil vive um momento semelhante. Em vez de buscar eficiência, cortar gastos desnecessários e reorganizar as contas públicas, o governo decidiu vender o que ainda resta: não vacas, mas a capacidade produtiva do povo, criando mais impostos. E o IOF — Imposto sobre Operações Financeiras — virou alvo dessa estratégia.
Originalmente, o IOF foi criado com função regulatória, não arrecadatória. Ele existe para modular a economia: aumentar em momentos de excesso de crédito, diminuir quando se quer atrair investimentos. Por exemplo:
Se o governo quisesse evitar a fuga de dólares, aumentaria o IOF sobre câmbio;
Se quisesse frear o consumo com crédito, aumentaria o IOF sobre empréstimos.
Mas agora o governo tenta usar o IOF como fonte de receita, como um “imposto emergencial” disfarçado. Em vez de cortar na carne do Estado, tenta passar a conta para o bolso do povo, por decreto — sem passar pelo crivo legítimo do Congresso.
Felizmente, o Congresso reagiu e derrubou o decreto, com 383 votos contra 98. Foi uma vitória da responsabilidade e da democracia. A tentativa de impor mais um peso ao povo sem discutir as causas da crise fiscal — como o crescimento descontrolado da máquina pública, privilégios, ineficiência e má gestão — é um erro grave.
O caminho correto não é criar mais impostos. É organizar as finanças, rever prioridades, combater desperdícios e incentivar o crescimento da economia real. É como no caso do fazendeiro: em vez de vender as vacas, é preciso plantar mais pasto, cuidar melhor do rebanho e garantir que, no futuro, haja mais produção — não mais dívidas.
Se continuar desse jeito, quem pagará a conta é o povo trabalhador. E quem perde é o país inteiro, que vê sua capacidade de crescer sufocada por uma carga tributária cada vez mais alta e injusta.
O Brasil precisa de responsabilidade, não de improviso. De governo, não de arrecadador. E de líderes que vejam a nação como uma fazenda a ser cultivada — não como um curral a ser explorado.
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