PENSAMENTO PLURAL Racismo recreativo não é engraçado!, por Palmarí de Lucena
Em sua crônica desta sexta-feira, o escritor Palmarí de Lucena destaca que o uso do humor como disfarce para o racismo é uma estratégia utilizada para minimizar a gravidade das palavras e ações. Ele argumenta que, ao classificar como “brincadeiras” ou “piadas”, os racistas buscam se isentar de qualquer responsabilidade ou consequência pelos seus atos. No entanto, ele ressalta que “essas manifestações não são apenas ofensivas, mas também prejudicam a construção de uma sociedade igualitária e justa”. Confira íntegra…
O termo “racismo recreativo” refere-se a comportamentos ou atitudes que, embora possam parecer inocentes ou inofensivas, na realidade perpetuam estereótipos raciais e contribuem para o racismo sistemático. Isso pode incluir piadas racistas, fantasias que zombam de uma determinada raça ou cultura, ou qualquer outra forma de entretenimento baseada na discriminação racial. Infelizmente, no Brasil é comum ocultar o racismo através do uso do “humor”, algo que é profundamente enraizado na sociedade brasileira e contribui para a manutenção de comportamentos inaceitáveis e a perpetuação das diferenças entre os grupos raciais.
Vários influenciadores digitais, políticos e religiosos brasileiros têm sido acusados de cometer esse crime, principalmente nas redes sociais, discursos improvisados aos seus seguidores e cultos religiosos. Eles utilizam de seu alcance, visibilidade e linguajar populista para disseminar ou normalizar conteúdo e falas racistas, normalmente disfarçado como humor ou entretenimento. Isso inclui piadas ridicularizando pessoas de determinada raça, cor, etnia ou procedência nacional, comentários jocosos sobre sua aparência física e criação de estereótipos negativos.
Embora o racismo recreativo já fosse objeto de estudos no Brasil e no mundo, somente recentemente foi incluído explicitamente na legislação brasileira, por meio da Lei nº 14.532/23. A partir dessa inclusão, é possível avaliar o nível de preconceito que uma pessoa possui em relação a determinado grupo. A Lei criminalizou expressamente o racismo recreativo, que se refere a ações ou comportamentos que perpetuam estereótipos e preconceitos raciais em um contexto de “diversão” ou “brincadeira”.
Penas por racismo foram ampliadas para dois a cinco anos de prisão, agora o crime é imprescritível, logo é possível denunciá-lo a qualquer momento. Racismo recreativo também é considerado racismo perante a lei, e as penas para esse tipo de racismo são aumentadas de um terço a metade em relação ao crime de racismo comum. Injúria racial, que costumava ser considerada apenas um crime contra a honra, agora é tratada como crime de racismo. Essa mudança resultou na sua retirada do código penal e uma nova legislação específica criada para abordar esse tipo de crime.
Combater o racismo recreativo envolve conscientização e educação, tanto por parte dos indivíduos que praticam esse comportamento, quanto pela sociedade como um todo. É fundamental questionar e desconstruir os estereótipos raciais presentes em nosso cotidiano, além de promover o respeito e a valorização da diversidade étnica e cultural e de também responsabilizar indivíduos ou entidades responsáveis por disseminar o racismo recreativo, seja por meio de denúncias, processos judiciais ou boicotes, de pressionar para que haja consequências reais para essas atitudes e para que os influenciadores digitais, políticos e religiosos sejam responsabilizados por seu discurso de ódio e discriminação.
A luta contra o racismo recreativo é uma luta por igualdade e respeito, um esforço para construir uma sociedade mais justa e inclusiva para todos. É importante lembrar que todas as formas de racismo devem ser combatidas e que é dever de cada um de nós contribuir para a construção de um mundo melhor.
Os textos publicados nesta seção “Pensamento Plural” são de responsabilidade de seus Autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Blog.