PENSAMENTO PLURAL Ricardo Coração de Leão e João Sem-Terra, por Francisco Barreto
Em sua crônica, o professor e ex-secretário Francisco Barreto narra curioso episódio envolvendo Ricardo Coutinho, João Azevedo e Luciano Agra. Começou quando Barreto foi ao então prefeito Ricardo sugerir a nomeação de João para cargo na prefeitura de João Pessoa. A reação foi brutal: “Que João, o Azevedo?- Nem pensar. Este vem da trupe corrupta de Domiciano e Sara Cabral. E sem hesitar, vociferou: – Todos gatunos.” Confira o desfecho dessa história no texto…
A história tem sempre exemplos malsinados e deletérios. Dois irmãos, reis da Inglaterra, todos dois pestilentos pela doença do Poder. Causaram grandes males aos súditos. Os seus registros históricos são implacáveis. Recorro a esta maledicência para resgatar uma passagem da vida pública recente. Ambos eram Ricardo o todo poderoso, e João no ostracismo dos sem terra.
No ano de 2005, Janeiro, com humildade pedi a Ricardo, então Prefeito, que nomeasse João Azevedo para um cargo na Sedurb (Secretaria de Desenvolvimento Urbano), o de meu Chefe de Gabinete. Argumentei que se tratava de um notável engenheiro urbano, profundo conhecedor da nossa urbe. Tive uma resposta ácida e desrespeitosa. Que João, o Azevedo?- Nem pensar – respondeu – este vem da trupe corrupta de Domiciano e Sara Cabral. E sem hesitar, vociferou: – Todos gatunos. Argumentei. Não diga isto. É uma pessoa de bem. O conheço de longa data, estivemos juntos na administração de Carneiro Arnaud. Competente, sério e excelente profissional. Nem pensar – arrematou. Saí cabisbaixo, indignado com a injustiça liminarmente proferida.
Fui a Luciano Agra relatar o episódio, Este – comentou – Não adianta, já tentei o mesmo ele está incontrolável. Saí, me sentindo ferido, e sem saber o que dizer a João que o Prefeito o considerava um delinquente. Despistei, e disse a João – que não tinha sido resolvido. Este percebeu, e me recomendou deixar para lá. Pouco tempo depois, voltei a insistir uma segunda vez. A posição do então edil era irremovível. Desonesto João, não aceitava. Outra dura recusa. Não me conformei, porque me fazia mal, um julgamento tão frio e duro. Aquilo, não iria me fazer baixar a guarda. Passados uns dias, fui determinado, por considerar que João estava sendo jogado na lama de modo inconsequente.
Uma última vez, iniciei com um argumento demolidor: – Não sou engenheiro, me seria impossível gerir a área de desenvolvimento urbano que tem por responsabilidade se debruçar sobre: praças, parques, vias públicas, cemitérios, mercados, ambulantes, drenagem, calçadas, edificações, e tudo mais, e que sem um engenheiro de confiança e de larga trajetória técnica seria um desafio muito além das minhas possibilidades. E fui direto – Sem ele, o João era impraticável.
Sem engenheiro não irei a lugar nenhum. João vai ficar junto de mim, sem fazer licitações, e sem ser ordenador de despesas. Ele com um ar aborrecido, então assentiu traga o ato. Saí eufórico na terceira tentativa. Eu e João, então passamos a repartir o trabalho e a sala, entronizado como Chefe de Gabinete.
Fez um grande trabalho. Ganhou velocidade, galgou os cargos de Secretário de Desenvolvimento Urbano, após a minha saída, o da Habitação, de Infraestrutura, e alçou ao comando de áreas estratégicas do Governo do Estado. Ao lado de Ricardo, coração de leão, já não era mais um João sem-terra. Teve promoções inauditas.
Hoje Governador do Estado, homem forte sob a batuta de tutor pestilento e perverso. Empoderou-se à sombra do seu então algoz. O que houve? Seria precipitado de minha parte asseverar quais foram as veredas e descaminhos subalternos do Poder que ele trilhou.
O tempo o dirá. Sei apenas que hoje, entronizado magistrado, tem um enorme desafio pela frente: fazer como as garças demonstrar que caminhou na lama e não sujou as penas. Espero que confirme a minha outrora crença de que era um engenheiro e professor competente, sério, honesto sempre desmentindo que nunca foi o ladrão que Ricardo injustamente o alcunhou.
Espero que esteja errado, que a história da perversidade das histórias do Poder, distando quase dois mil anos com Ricardo e João não tenham sido exumadas e reeditadas como uma farsa. E, que os podres poderes não tenham lapidado mais uma vez, e assim consumado a miséria humana. João nos diga com a honestidade da sua estória pretérita que você não se perverteu. É fundamental, que hoje, nos assegure que o respeito que você sempre teve não foi dilacerado pela vergonha e a infâmia. Restaure a minha confiança e admiração.
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