PENSAMENTO PLURAL Sexo for export, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena observa, em sua mais recente crônica, como a publicidade realizada pelo País, ao longo do tempo, a partir especialmente da década de 1960, terminou por colocar o “Brasil na rota internacional do turismo sexual, estimulando condutas inadequados de viés machista, abordagens violentas e até a exploração sexual de menores e tráfico de mulheres brasileiras no exterior”. Confira a íntegra do comentário…
Materiais promocionais e informativos do Governo Brasileiro e a EMBRATUR em particular, nas décadas de 1960 a 1980, disseminaram a imagem da mulher sensual brasileira como um produto turístico nacional, a ser consumido como as praias, paisagens, cidades históricas ou festejos populares. Durante aquele período, pôsteres, brochuras, revistas e vídeos mostravam mulheres com corpos sinuosos, vestidas minimamente na praia, sambando no Carnaval ou comportando-se hedonisticamente, quase sempre estereotipadas como fáceis, sensuais e provocantes.
Imaginário que colocou o Brasil na rota internacional do turismo sexual, estimulando condutas inadequados de viés machista, abordagens violentas e até a exploração sexual de menores e tráfico de mulheres brasileiras no exterior. Incentivando o turismo sexual, que hoje atinge aproximadamente 2 milhões de meninos e meninas no mundo, sendo
que crianças brasileiras representam 10% do total, segundo a UNICEF.
Apesar da EMBRATUR ter abandonado o uso da imagem da mulher sensual em campanhas publicitárias, segmentos do “trade” turístico continuaram produzindo materiais promocionais enfatizando a sensualidade e aparente disponibilidade do produto mulher brasileira. Publicações que são frequentemente focadas nos “bumbuns” ou imagens de homens brancos maduros acompanhados de mulheres de cor, escassamente vestidas em diminutos biquínis. Infelizmente, declarações como a de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto, em abril de 2019: “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, [o Brasil] não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay, do turismo gay”, postura que abre interpretação para o incentivo do turismo sexual no País, que nos remete à época da ditadura.
A pesquisadora Beatriz Padilha do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresas de Lisboa, cita o romance “Iracema”; de José de Alencar, como representativo da construção da imagem da mulher brasileira, em uma espécie de mito da fundação do povo brasileiro. Nele, a indígena Iracema, a “virgem dos lábios de mel”, é a sedutora de Martim, um português que explorava as terras do Ceará no século XVI. A figura da índia sedutora incorporou-se a mulher negra, numa ideia de harmonia mestiça. Homens europeus usavam mulheres indígenas ou negras, para satisfazer suas necessidades criando a ideia da mestiçagem ou miscigenação, como a marca registrada do povo brasileiro e a fantasia do Brasil como uma democracia racial, adornado por seres mitológicos e estereótipos racistas enrustidos no imaginário, história e cultura do País.
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