Em seu comentário, Hélder Teixeira faz pertinentes e oportunas reflexões sobre o projeto do Polo Turístico de João Pessoa. “Será que há mão de obra, moradia, mobilidade, estrutura e infraestrutura suficientes para dar esse passo audacioso?”, indaga Hélder. Confira íntegra de seu texto…
É louvável o esforço do governo em transformar a região sul da capital João Pessoa em um grande Polo de turismo. Como paraibano, não posso deixar de vibrar com o empenho. No entanto, ao lidar com mudanças urbanas dessa magnitude, sempre há um “mas”.
Será que João Pessoa está preparada para se tornar tão grandiosa? Será que há mão de obra, moradia, mobilidade, estrutura e infraestrutura suficientes para dar esse passo audacioso?
Atualmente, a cidade enfrenta a pior crise de segurança pública dos últimos 20 anos. Além disso, a infraestrutura de trânsito é caótica e não existe um planejamento municipal capaz de lidar com tantos desafios a curto e médio prazo.
Podemos citar o exemplo de Suape, em Pernambuco, onde toda a infraestrutura foi tocada após sua implantação, gerando uma confusão gigante nas cidades vizinhas como Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Jaboatão dos Guararapes. Até hoje, os governos municipais e estadual estão se adequando para lidar com as questões de trânsito, segurança, moradia e logística criadas pelo Complexo.
Diante disso, é essencial que se comecem a trabalhar nesses pontos imediatamente. O turismo não tolera erros nem falhas, é a indústria mais exigente que existe e cobrará um alto preço.
Não conheço as pessoas que administram o turismo da Paraíba, portanto, não sei se são capazes de encarar esse desafio. Porém, levando em consideração a precariedade dos equipamentos turísticos básicos, parece que falta conhecimento na área.
Um exemplo disso é a falta de sinalização turística em todo o Estado. Se alguém quiser conhecer Cabeceiras, terá que se guiar no tato, pois não há sinalização, por exemplo, de Campina Grande a cidade hollywoodiana nordestina. O mesmo acontece com os pontos turísticos do brejo, como a Pedra da Boca, onde é necessário confiar no GPS, já que não existe nenhuma sinalização.
Isso se repete no Pico do Jabre, nos dinossauros de Sousa, nos Lagedos do Cariri, nas cidades históricas do interior, como Areia, Bananeiras, Araruna, Borborema, entre outras. Não existe, por incrível que pareça, uma única menção sobre Campina Grande ser palco do maior evento popular do Brasil no mês de junho, o Maior São João do Mundo, em nenhum trecho das rodovias que levam a segunda mais importante cidade do estado. Nem uma plaquinha sequer.
Outro fator preocupante, local, é o estado de abandono do centro histórico de João Pessoa. A capital, uma das mais antigas do Brasil e belas do país, negligenciou seu marco zero, sua história e suas relíquias arquitetônicas. É a única cidade histórica do Brasil que foi completamente abandonada pelo poder público e pela iniciativa privada.
Diante disso, surgem as seguintes perguntas: Vale a pena ter resorts e hotéis luxuosos, com milhares de turistas ávidos para gastar, se eles não têm para onde ir ou, pior ainda, não saber como ir, permanecer e ter o mínimo de conforto e apoio? Será que haverá mão de obra especializada e bem treinada? João Pessoa é conhecida pelo péssimo atendimento aos clientes. Será necessário importar mão de obra? E, caso isso ocorra, a cidade terá estrutura para receber esses novos moradores?
O turismo é uma das três principais vocações econômicas da Paraíba e sempre foi negligenciado. Espero sinceramente que os responsáveis pelo poder se espelhem no Rio Grande do Norte, que, mesmo enfrentando sua pior crise, mantém hotéis cheios e um movimento turístico ativo e independente de humores governamentais. Está na hora de investir de verdade no turismo paraibano.
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