PENSAMENTO PLURAL Telefone celular ainda precisa ter a função de falar? Por Ricardo Sérvulo
A crônica do advogado e jornalista Ricardo Sérvulo traz uma reflexão quanto à utilidade real dos aparelhos celulares que, se, no início surgiu como símbolo de status, mas também como opção de vanguarda para os telefones convencionais, hoje apresentam uma quantidade de funções que terminam por sugerir a indagação: eles ainda devem ser utilizados para… falar? Confira íntegra de seu comentário…
A humanidade teve grandes avanços principalmente nos últimos 150 anos, um deles foi a invenção do telefone e o patenteamento do primeiro aparelho ocorreu na década de 1870. O grande responsável por isso foi o inventor e empresário escocês Alexander Graham Bell (1847-1922). O registro inaugural de transmissão elétrica de voz feito por Graham Bell aconteceu no dia 10 de março de 1876. Com esse fantástico advento o mundo deu muitos passos à frente. Imaginemos poder falar à distância mais remota o que significou essa vitória do engenho humano.
Daí vieram muitas outras conquistas como o fax, nele, a função viva voz, surgiu o e-mail através de algo mui valioso que foi a internet, uma coisa fantástica que revolucionou o mundo e a humanidade pra sempre, mudando todos os conceitos culturais, integrativos e informativos através da famosa navegação virtual. O telefone celular veio inicialmente como símbolo de “status”. Algo que só os abastados tinham, as linhas então eram caríssimas chegando a custar no câmbio negro US$ 1.500,00 – 2.000,00, coisa que hoje o acesso à linha é praticamente gratuito.
Com tudo isso, em seguida veio o avanço exponencial para os chamados smartphones, que fazem tudo, menos levar as crianças ao colégio e lavar os pratos da pia advindos da última refeição. E é justamente nesse ponto que começamos a nos divorciar da nossa natureza gregária e tátil no sentido mais hiperbólico do afeto humano. As redes sociais são maravilhosas claro, mas estão mecanizando mais e mais as relações entre as pessoas. Não existe mais sorriso natural, o que há é um emoji de uma carinha sorrindo, não se cogita mais entregar flores e sim enviar um buquê virtual, e aí vai o pior, que motiva o título dessa crônica: não se fala mais ao telefone. Só se usa o famoso whatsApp! Incrível como ligar para outra pessoa atualmente passou a ser uma espécie de “declaração de guerra”. Quase ninguém fala mais por telefone, estamos reféns de contatos gélidos e frios de mensagens e conversas muitas vezes longas pela via escrita, algo surreal.
Convido você leitor a tentar falar com 5 pessoas via ligação convencional, e me diga quantas quiseram travar um diálogo através do telefone em uma dialética saudável e calorosa de ouvir a voz do seu interlocutor ao vivo e em tempo real. Em verdade, há uma via crucis para quem quer cometer o desatino e a ousadia de se comunicar usando a voz ao vivo por meio de ligação telefônica.
A tentativa começa assim, via “Zap”: – Oi, tudo bem?
⁃Posso ligar pra você?
Resposta na maioria das vezes é:
a) fale por aqui mesmo;
b) não posso falar no momento; c) mais tarde te mando uma mensagem;
d) deixa no vácuo (que no linguajar moderno, quer dizer: vá se danar).
Acontece muito de alguém ligar pra outra pessoa e dizer: prefiro falar por Zap, sou tímido e não gosto de falar, e isso motiva a negativa.
Também ocorre muito de a pessoa não atender a chamada, mesmo o celular mostrando que a pessoa encontra-se on-line e vc liga e nada, mas quando o interlocutor passa uma mensagem, ele a recebe e responde logo! Veja, há uma resposta seletiva. Aí é de se perguntar: Telefone celular ainda precisa ter a função de falar? Acho que diante desse quadro o ideal seria que os smartphones não necessitam ter a fundação de falar…
É claro que eu não estou negando a baita utilidade dos “zaps da vida”, óbvio que não. Só acho que ele é muito viável na entrega de mensagens e envios de fotos, documentos e etc, só que não pode ser o principal meio a se comunicar principalmente em conversas mais íntimas e longas.
Espero que ainda julguem necessário falar, ouvir, à boa e velha maneira pessoal, falar de viva voz, pois o mundo anda muito arredio, cáustico, inóspito, frio, virtual e distante. Em que pese todo o “anacronismo” de pensar que a natureza é algo falho e superado, temo que ela não o seja. Em verdade, ela clama por algo assim: vocês não precisam viver em redomas de cristal – pois uma hora todos nós cansaremos e ajustaremos as nossas realidades ao meio social correto de utilizar esse instrumento fantástico que são as telemensagens sem perdermos a marca que nos é valorosa e dadivosa de sermos seres pensantes que precisam de afeto, contato, carinho, atenção, cumplicidade, presença e humanidade por excelência.
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