Em sua crônica, o escritor Palmarí de Lucena pontua como o “trumpismo tropical se alastra como sombra importada, disfarçada de patriotismo”. Líderes da direita brasileira reverenciam um modelo que despreza o Brasil, ignorando tarifas, insultos e danos ambientais. “Ao seguir cegamente Trump, renunciam à soberania e trocam diplomacia por subserviência. Mas o mundo reage — e talvez, no excesso de Trump, esteja a cura para a febre que ele próprio espalha”, acrescenta. Confira íntegra…
Donald Trump voltou à Casa Branca prometendo liderar uma guerra contra o “wokeísmo” — termo que ele e seus aliados usam para ridicularizar pautas ligadas à justiça social, igualdade e diversidade. Sua ideia era destruir o centro político e inspirar uma revolta global contra o politicamente correto. Mas o efeito parece estar sendo o oposto: líderes em todo o mundo reagem com firmeza ao estilo agressivo, isolacionista e autoritário que ele representa.
Em países como Canadá, Reino Unido e Austrália, o medo das políticas de Trump levou à vitória de candidatos mais moderados. No Canadá, Mark Carney só entrou para a política por causa da ameaça de Trump — que chegou a dizer que o Canadá poderia virar o “51º estado americano”. Na Austrália e no Reino Unido, líderes ganharam força ao enfrentar Trump e suas ideias. Até aliados tradicionais, como Macron na França e Farage no Reino Unido, começaram a se distanciar.
Mas no Brasil, parte da direita faz o caminho contrário. Políticos como Eduardo Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e Romeu Zema tratam Trump como modelo, mesmo quando suas ações prejudicam diretamente o Brasil. As tarifas americanas sobre o aço e o alumínio atingem nossa indústria. O desprezo por acordos ambientais afeta a Amazônia. O ataque ao BRICS enfraquece nossa posição internacional. Ainda assim, alguns brasileiros insistem em defender Trump como se fosse herói nacional.
Esse tipo de submissão ideológica não é patriotismo. É cegueira política. Defender um líder estrangeiro que despreza nossos interesses econômicos, ambientais e diplomáticos é renunciar à soberania. Copiar slogans como “Make America Great Again” não resolve os problemas brasileiros — só nos afasta das soluções.
Em tempos de tensões globais e fragmentação geopolítica, a diplomacia brasileira tem papel essencial na defesa do multilateralismo. A presença ativa do Brasil na Organização Mundial do Comércio, nos debates sobre o clima e na proposta de reforma do Conselho de Segurança da ONU reforça nossa tradição de buscar equilíbrio, diálogo e cooperação. Não é por meio de alinhamentos automáticos com potências hegemônicas que construiremos respeito e protagonismo, mas sim pelo compromisso com instituições que refletem a diversidade e os interesses coletivos do mundo.
Trump pode ainda dominar manchetes e assustar opositores, mas seu impacto está caindo. Nos primeiros 100 dias do segundo mandato, registra os piores índices de aprovação da história recente. E, ao invés de inspirar uma revolução global, tem reanimado o centro político e fortalecido seus críticos.
No Brasil, é hora de parar de seguir Trump como se fosse farol. Seu modelo não serve para nós. Repetir o trumpismo por aqui é um erro grave — e quem insiste nisso, mais cedo ou mais tarde, vai descobrir que o Brasil merece um caminho próprio, não uma cópia malfeita de um projeto que nem os americanos querem mais.
Os textos publicados nesta seção “Pensamento Plural” são de responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Blog.