PENSAMENTO PLURAL Votando com seus pés, por Palmarí de Lucena
A expressão é usada nos Estados Unidos para denotar contragosto a uma determinada decisão ou ação. Em sua crônica, o escritor Palmarí de Lucena pontua a existência de “uma crescente tendência de brasileiros de sair do País, majoritariamente por razões socioeconômicas, usando esquemas ilegais, notadamente inseguros de entrar nos Estados Unidos”, mostrando, em sua ótica, como há um desejo de mudança, não apenas de País, mas de padrão de vida. Confira íntegra de seu comentário…
“Vote with your feet” é uma expressão americana que descreve a decisão de expressar contrariedade com uma decisão ou ação, optando pelo abandono de uma organização ou deixando um lugar, em outras palavras, votando com seus pés. Relatórios e reportagens recentes, mostram uma crescente tendência de brasileiros de sair do País, majoritariamente por razões socioeconômicas, usando esquemas ilegais, notadamente inseguros de entrar nos Estados Unidos através da fronteira com o México, no intuito de obter residência permanente ou asilo e acesso ao mercado de trabalho americano.
Migração para o Estados Unidos começou durante a Segunda Guerra Mundial através do eixo Governador Valadares – Boston, quando os norte-americanos buscaram a região para abastecer-se de mica, um mineral usado na fabricação de rádios. Eventualmente, a área tornou-se um polo de comercialização de pedras semipreciosas, causando migrações cada vez mais difíceis de interromper, comércios já estabelecidos no Leste Americano passaram a funcionar como magnetos, trazendo novas ondas de imigrantes a procura de oportunidades econômicas. Rua conhecido como “Little Brazil” em New York, é um bom exemplo da sustentabilidade da presença brasileira no País.
Restrições importantes nas Leis de Imigração dos EUA e deterioração de condições socioeconômicas no Brasil, aumentaram a proliferação de esquemas ilegais operados por quadrilhas na fronteira mexicana. Hoje o Brasil se há transformado no país de sétima origem mais frequente de estrangeiros indocumentados, à frente de Cuba, Haiti, Nicarágua, Colômbia e Venezuela, países que vivem intensas crises domésticas e com histórico de migrações ilegais ao território americano. Os 29.500 brasileiros detidos em 2021 tentando entrar ilegalmente pela fronteira dos EUA, constituem um recorde em toda a série histórica, que mede tais movimentos por nacionalidade desde 2007. Em 2011, apenas 472 brasileiros foram detidos na mesma condição migratória.
Estima-se que a maior parte das 4.867 crianças brasileiras menores de 6 anos entraram ilegalmente pela fronteira estadunidense desde outubro de 2020, estavam acompanhadas dos pais, o mesmo aconteceu com outras 1.297 entre 7 e 9 anos e os 2.585 pré-adolescentes e adolescentes entre 10 e 17 anos. Autoridades americanas identificam como unidades familiares, 2/3 dos quase 30 mil brasileiros já detidos pela imigração em 2021. Prática de migração ilegal é estimulada pelos coiotes, como são chamados os operadores dessas rotas ilegais, incentivando a chamada prática do “cai-cai”: ou seja, a viagem de migrantes sem visto com seus filhos menores de idade, para garantir que os adultos não sejam deportados imediatamente, quando se apresentarem ou sejam detidos.
O novo modelo de migração – majoritariamente em família – também comprovam que essas pessoas estão tentando uma mudança definitiva de país, um reassentamento e recomeço de vida, não apenas trabalhar ganhando em dólares por algumas temporadas para depois regressar ao Brasil. Lamentavelmente, a grande maioria dos migrantes ilegais brasileiros votam com seus pés, saindo de um país que lhes oferece poucas possibilidades, optando por um futuro incerto em uma ambiente cada vez mais hostil aos imigrantes estrangeiros, que agora inclui um número significante de brasileiros.
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