Plebiscito é só jogo de cena. O brasileiro quer mesmo é o fim da corrupção
Vamos combinar: o Brasil precisa de uma reforma política urgente, e já deveria ter sido aprovada há muito tempo, mas a matriz da insatisfação dos brasileiros não é em relação a essa reforma. A nação está indignada e foi às ruas principalmente contra a corrupção, que desvia dinheiro da saúde, da educação, da segurança pública e vai por ai.
Então, esse plebiscito nem de longe vai aplacar o ímpeto das manifestações pelo País afora. A população quer a apuração dos escândalos, tanto que deu um crédito de confiança ao Ministério Público, impondo o arquivamento da MP 37. E, mais do que a apuração rápida, que a punição dos eventuais responsáveis pelo desvio de recursos públicos.
Esse é o verdadeiro recado que os manifestantes mandaram em todo o País. Por que os brasileiros se revoltaram exatamente durante a Copa das Confederações? Porque o orçamento da Copa, que foi inicialmente definido em R$ 8 bilhões, já passa dos R$ 22 milhões. Sobreveio a dúvida sobre onde essa dinheirama toda foi parar realmente.
Ademais, se o País tem tanto dinheiro assim, para duplicar os gastos com estádios, então por que não tem para pagar um salário decente aos professores? Por que não tem para fazer os hospitais atenderem as pessoas de forma decente? Por que não tem dinheiro para investir em transporte público de qualidade? Por que não tem para infraestrutura?
Essa é, na verdade, a causa maior das insatisfações. E em que a reforma política vai alterar esse quadro? Por isso, ainda que o Governo consiga mobilizar a população para o plebiscito, o que virá depois será a frustração, porque não haverá melhores hospitais, uma educação de qualidade, melhor transporte público como efeito da reforma política.
Da forma como está sendo posto, o plebiscito é, antes, um factoide, talvez até um embuste, para desviar a atenção dos reais problemas que o País enfrenta. Parte, aliás, da imensa hipocrisia que tem marcado o comportamento da classe política desde o início da onda protestos pelo País.