Políticos fazem campanhas em poesia e governam em prosa, confira no artigo de Palmarí
O feriadão terminou atrasando a postagem do novo artigo do escritor e comentarista Palmarí Lucena. Mas, o seu texto, sempre brilhante, não perde a atualidade. Sob o título “Poesia na campanha, prosa no governo”, Palmari cita frase de um ex-governador de Nova York, para destacar a “caricatura fiel do estilo de fazer política do Brasil… promessas, promessas, só promessas”.
CONFIRA A ÍNTEGRA DE SEU ARTIGO…
“Políticos fazem campanhas em poesia e governam em prosa, celebre frase de Mario Cuomo, ex-governador do Estado de New York, continuando sua relevância mesmo depois de três décadas. Caricatura fiel do estilo de fazer política nos dias atuais, do Presidente Trump à vereadores e prefeitos de pequenas cidades do interior do Brasil. Promessas, promessas, só promessas …
Ausência de sanções para oficiais eleitos pelo não-cumprimento de planos de metas, requeridos por leis orgânicas municipais, desvirtuam a importância e eficácia destes mecanismos de supervisão democrática. Transparência e participação popular na gestão da coisa pública requerem muito mais do que “avaliações positivas” preparadas anualmente e disseminadas pela burocracia, camuflando promessas e lançando novos bordões para justificar sua própria ineficiência.
Eleitores costumam reclamar dos gastos exagerados de governos sem nunca protestar contra benesses ou medidas populares enfraquecendo o sistema republicano de governança. Empresários aplaudem subsídios na forma de desonerações e reserva de mercados. Parte do eleitorado considera melhor valor por dinheiro investir em programas assistencialistas e a tutela do poder público sobre a população menos favorecida. Contradições minimizadas por frases e slogans fáceis de digerir. Ações do governo invisíveis para o povo notadas precariamente quando eliminadas ou restritas devido a cortes orçamentários ou mudanças em arranjos político-partidários.
Ambiguidade e hipérbole em campanhas políticas trazem promessas de afagos eleitoreiros, sugestões oblíquas de reconhecimento pela lealdade eleitoral e possibilidades de outras benesses financiadas pelo Erário. Cargos de confiança ou emendas parlamentares para financiar projetos são os principais vetores de incompetência e corrupção institucional crescente na selva da indiferença do eleitorado brasileiro. Somos nossos próprios inimigos, coautores da prosa dos oficiais eleitos.”