Procurador critica privataria de RC e denuncia: “PB vive crise sem precedentes”
O procurador Eduardo Varandas (Trabalho) tem produzido excelentes textos sobre a realidade paraibana. Além, é claro, do incansável trabalho na fiscalização das ações de certos gestores, com o governador Ricardo Coutinho, que terceirizou a saúde do Estado, a partir do Hospital de Trauma, com resultados decepcionantes. Além de toda a ilegalidade.
Varandas acaba de postar um comentário em seu blog (http://bit.ly/H3gNgR), em que traça um paralelo entre uma produção de Hollywood e a situação atual do EStado: “Paraíba hoje vive uma crise, sem precedentes, nas áreas fundamentais: saúde, educação e segurança… O hospital de trauma foi privatizado, através do contrato de gestão pactuada, e o câncer da “privataria governamental.”
Confira o artigo na íntegra: “Esta semana tive o prazer de ir ao cinema para assistir a “Elysium”. Trata-se de uma produção norte-americana, estrelada pelo genial Matt Damon e Jodie Foster e que tem também como integrantes do elenco os brasileiros Wagner Moura e Alice Braga.
Confesso que fui ao cinema com a curiosidade de conferir a estreia de Moura numa saga “hollywoodiana”. Não sabia que a película, logo na primeira semana em que foi lançado, obteve o absoluto primeiro lugar de bilheteria nos EUA, desbancando, com tranquilidade, “Percy Jackson” e “We´re the Millers”, produções igualmente festejadas.
A trama é interessantíssima. Remonta ao ano de 2154, quando a Terra se torna um lugar insuportável para viver, repleta de violência, doença e miséria. Nesse diapasão, os mais ricos resolvem deixar o planeta e habitar uma estação espacial chamada Elysium. Lá, os ricaços moram em mansões luxuosas, sem criminalidade e desfrutam de jardins babilônicos, banquetes nababescos e um sistema de saúde “hi-tech” que os possibilita a cura de qualquer enfermidade.
O filme não podia ter um título mais apropriado. Sabe-se que “Elísio”, na mitologia grega, era o paraíso, onde os homens virtuosos repousavam dignamente, rodeados por boa música, lindas paisagens e fartança. Na versão clássica, o Elísio só aceitava almas dos heróis, santos, sacerdotes e poetas.
Pois bem! O grande mote do filme é demonstrar as desigualdades sociais do mundo moderno. Com efeito, através da ficção científica, o filme penetra na realidade de hoje, induzindo o espectador a observar os diversos microcosmos, incomunicáveis entre si, dentro do macromundo. É fácil a constatação de que vivemos um verdadeiro “apartheid” social, onde as classes mais providas se fecham em condomínios luxuosos, têm acesso à boa educação, medicina e segurança privadas de excelente qualidade.
Até nos países do “primeiro mundo” (termo de acepção “per si” separatista), existem os guetos dos ricos apartados dos guetos dos pobres, a linha divisória que separa os dois é quase intransponível numa economia capitalista e opressora que tira do centro da sociedade a dignidade humana para apor o materialismo.
De toda sorte, saí da sessão cinema bastante pensativo e aí aconteceu o inevitável. Perguntei-me “como está a Paraíba nesse mundo plurifacetado e polidividido chamado “Terra”?
Igual ao filme, a Paraíba hoje vive uma crise, sem precedentes, nas áreas fundamentais: saúde, educação e segurança. O lema “tranquilidade” já não mais se aplica à Paraíba, sendo João Pessoa considerada, em alguns aspectos, a décima cidade mais violenta do mundo. Delegados e policiais são mal remunerados, e o Estado da Paraíba apresenta um déficit humano de mais de 10 mil agentes de polícia.
Os bolsões de miséria estão espraiados pelo Estado. As cenas mais chocantes do filme, retratando violência e pobreza, constituem o cotidiano de quem vive em João Pessoa.
As escolas do ensino público fundamental estão repletas de aulas vagas por carência de profissional, e os professores públicos, desvalorizados, buscam milagres para cumprir seus misteres. Doutra banda, os hospitais públicos viraram açougue de carne humana. O hospital de trauma foi privatizado, através do contrato de gestão pactuada, e o câncer da “privataria governamental” se alastra por todo o sistema estadual, causando assédio moral, desestímulo e más condições de trabalho aos servidores da saúde.
A população humilde sofre com o desleixo de um poder público néscio, incompetente e descompromissado.
Com perspectivas nada animadoras, “os mais ricos” enclausuram-se em condomínios de luxo, pagam por bons serviços de saúde, frequentam restaurantes finos e usufruem de serviços de segurança privada. Vivem no Élisio da Paraíba, aqui batizado de “Paraybium”.
O grande problema que vejo é que , ao contrário da ficção, onde há um herói que consegue unir os dois mundos e minimizar as diferenças, cá não se terá ninguém. O “Paraybium” está repleto de autoridades, nobres e adulões, todavia, ao que me parece, ninguém com capacidade e disposição para tornar a realidade menos deprimente e perversa. Assim, que venha o bálsamo da ficção!”