Tenho estranhado, meu caro Paiakan, essa onda de protestos em São Paulo. Então, as pessoas estão indo para as ruas para reclamar do aumento de R$ 0,20 no preço das passagens? Por mais que essa quantia venha a pesar o bolso de algumas pessoas mais carentes, a animosidade desses protestos é, no mínimo, de causar estranheza.
Talvez seja apenas a gota d’água de algo mais profundo. Arrisco um palpite: o cidadão começa a cansar de governos inoperantes e, via de regra, atolados em escândalos, que não dão respostas às reais demandas da sociedade. O cidadão está cansado de tanta violência, falta de investimentos em educação, em saúde, em mobilidade urbana.
Ai está a raiz do problema. Na Paraíba, por exemplo, se um banco é assaltado, a culpa é do próprio banco. Se uma mulher é roubada é porque faltou fazer cara feira para o bandido, conforme o entendimento oficial. Não se diz da cara feia que o governador faz para os policiais militares e civis, que estão entre os mais mal pagos do País.
Na Paraíba, o principal hospital da rede pública foi terceirizado, está nas mãos de uma suspeitíssima Cruz Vermelha gaúcha, que, ao custo de apresentar corredores assépticos, recusa pacientes e terceiriza a maior parte dos atendimentos. Tudo isso ao preço mensal de R$ 8,8 milhões, quando metade disso já seria suficiente para uma assistência pública decente.
E o que dizer da educação? Ora, recente publicação de uma revista de circulação nacional (Educação) mostrou que a Paraíba paga o quinto pior salário do País aos seus professores da rede estadual de ensino. Sequer paga o piso, e ainda não cumpre o número de horas que os docentes precisam para atividades extraclasse. E o Governo diz que a culpa é da Imprensa que requenta notícias.
Mobilidade urbana? Onde será que existe isso, porque seguramente não ocorre em João Pessoa? Pior: em vez de dar solução aos problemas do trânsito, qual é o hábito por essas latitudes? Culpar as pessoas por estarem comprando mais carros! Ninguém assume a culpa por não ter um transporte público de qualidade. E ninguém se entende ao realizar mudanças cada vez mais esdrúxulas nas vias.
O que de causar espanto e estranheza verdadeiramente, meu caro Paiakan, é que, enquanto o cidadão de São Paulo tenha acordado para mazelas dessa magnitude que tiram o que lhes de qualidade de vida, o paraibano não tenha ainda despertado e adotado os mesmos comportamentos. Porque, por aqui, os problemas são muito maiores.
