Qual a fronteira que separa as pichações das artes de rua? Confira no artigo de Palmari
Sempre antenado com os motivos contemporâneos, o escritor Palmari Lucena comenta, em seu artigo da semana, sobre as “pichações e a arte das ruas”, tema que tem galvanizado a comunidade artística, a partir de São Paulo, com os últimos episódios protagonizados pelo prefeito Jorge Dória.
Palmari entende ser “preciso encontrar uma maneira criativa para punir os infratores (pichadores) com penas alternativas, como consertar ou limpar locais por eles vandalizados e oferecendo treinamento em belas artes para torná-los competitivos como artistas das ruas.” Artigo, como sempre, imperdível…
“Pichações e arte das ruas
Trivializado por políticos eleitos na última década, o conceito de “choque de gestão” transformado em um para-sol para a multiplicidade de ações governamentais desafiando o status quo, através de medidas pontuais, processos administrativos modernos e sustentáveis. Projetos instantâneos de alta visibilidade e impacto midiático, como no caso do programa “Cidade Limpa” implantado pelo Prefeito de São Paulo. Notável entre eles é a guerra declarada aos pichadores, evento presente em todas as administrações da cidade desde de 1986, quando era prefeito Jânio Quadros. Críticos acusam a prefeitura de censura e arbitrariedade já que vários murais previamente autorizados foram apagados por servidores da limpeza pública.
Dificuldade para encontrar uma forma coerente de proteger as cidades da onda de pichações de centros históricos e imóveis de alto valor patrimonial, causada em parte pela ambivalência e ambiguidade sobre por quem e como julgar o que tem valor artístico e o que é vandalismo, como estabelecido na lei federal de 2011.
Durante o seminário “Brasil, Brasis – Grafitismo, a arte das ruas”, o acadêmico Antônio Carlos Secchin, explicou o neologismo grafitismo sugerindo que seria mais adequado se utilizar o sufixo “ismo”, presente também em palavras como vanguardismo e romantismo, do que o sufixo “agem” como em malandragem e bandidagem, um rótuloconsiderado mais apropriado para os pichadores, na sua maioria pobres e vítimas de exclusão social. Abundam comparações com as atitudes racistas das forças policiais.
É preciso encontrar uma maneira criativa para punir os infratores com penas alternativas, como consertar ou limpar locais por eles vandalizados e oferecendo treinamento em belas artes para torná-los competitivos como artistas das ruas. Elitizado e diferenciado pela migração de artistas com formação em belas artes como artistas das ruas, o grafite brasileiro é visto hoje como uma valiosa mercadoria, arte de vanguarda e contestação que se incorpora ao espaço e valoriza a paisagem.”
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