Sem Lula e sem altivez do Congresso, Nordeste pena com a seca no Governo Dilma
Vamos combinar. Se o presidente do Brasil ainda fosse Lula, o Governo Federal certamente estaria dispensando um tratamento mais humanitário aos nordestinos, por conta da seca que se abate na região, uma das maiores dos últimos 40 anos, como bem pontuou no Congresso o senador Cícero Lucena. O senador Cássio também não precisaria bradar da tribuna, cobrando providências da União.
Mas, a presidente Dilma não tem sobre a seca e o Nordeste a mesma compreensão de Lula. Lula foi retirante da seca e conhece o que é faltar água para matar a sede. Dilma foi guerrilheira, entende de outras armas. Lula certamente já teria concluído as obras da transposição do São Francisco que, bem ou mal, teria minimizado os efeitos desta estiagem prolongada. Pelo menos haveria água.
Lula pensaria em socorrer as vítimas, dispensando um tratamento assistencialista, como foi o perfil de seu Governo. Dilma raciocina de forma racional, como a manifestação infeliz da ministra Miriam Belchior (Planejamento), que recomenda o nordestino ter fé, porque as águas do São Francisco irão chegar em 2015, com a conclusão da transposição, ainda que não explique como sobreviver até lá.
Problema é: quando se trata de Nordeste, tudo se move lentamente. Há poucos dias, o Senador criou uma comissão para analisar o andamento das obras da transposição. A comissão começará a trabalhar em março de 2013, visitando o canteiro das obras, e terá até o final do ano para apresentar um relatório. Enquanto isso, as obras estão devagar quase parando e os nordestinos morrendo à míngua.
O que falta é altivez da bancada nordestina. O brado da tribuna do Congresso tem seu efeito. Gera mídia, causa alguma comissão e tem repercussão perante a população. Mas, a obra da transposição e outras ações em favor dos nordestinos dependem muito mais de vontade política do Palácio do Planalto. Porém, a única linguagem que o Governo Federal entende é o idioma das votações no Congresso.
Então, se essa é a regra do jogo, o que bancada nordestina deveria fazer era se impor e só votar as matérias de interesse do Governo Federal, após atendidas as reivindicações em relação ao Nordeste. Enquanto isso não ocorrer, não adianta gritar e espernear. A seca seguirá dizimando rebanhos e matando nordestinos de fome e sede. E com o beneplácito de nossos parlamentares. Lastimavelmente.