Um drama girassol: o Teatro Santa Roza completa 127 anos… fechado
Não foi por que vários jornalistas, como Nakamura Black (Severino Oliveira), publicaram a denúncia de abandono, a verdade é que o Governo Ricardo Coutinho vem tratando o Teatro Santa Roza, uma instituição do patrimônio cultural da Paraíba, com absoluta indiferença. Várias entidades já solicitaram audiência ao governador para tratar do assunto, mas ele tem feito ouvidos de mercador.
Símbolo de um período florescente da cultura na Paraíba, o teatro permanece fechado, há três anos, e vive o drama de passar por uma reforma interminável. O Governo do Estado, pelo menos até a manhã desta sexta (dia 4), não havia se manifestado oficialmente sobre o caso.
História – Há um ano precisamente, o teatrólogo Tarcísio Pereira resgatava um brilhante texto da escritora Fátima Araújo, extraído de seu livro “Santa Roza, um Teatro Centenário”, e que tratava de sua inauguração, há 127 anos, e a esperança era seria entregue à comunidade cultural ao longo de 2015. Não foi.
CONFIRA O TEXTO DE FÁTIMA ARAÚJO…
“Hoje, 3 de NOVEMBRO, O Theatro Santa Roza completa 126 anos… Fechado para reforma, não teremos nesta data um espetáculo comemorativo, mas convidamos a todos para ler, a título de curiosidade, a transcrição de uma matéria publicada há 126 anos, no jornal “Gazeta da Parahyba”, edição de 5 de novembro daquele ano, em que descreve detalhadamente o que aconteceu na noite de inauguração do Theatro. A matéria é uma verdadeira relíquia. Leiam, emocionem-se nessa viagem ao tempo:
“Com um festival esplêndido e irradiante, foi inaugurado a 3 do corrente o Theatro Santa Roza. Não concluído ainda, o edifício já tinha a magnífica aparência e o perfil majestoso dos templos onde se celebra o culto de uma das mais belas artes liberais.”
“Não cabendo nos limites desta notícia a minuciosidade descritiva de seus departamentos e decorações, ou a antecipação de uma crítica vasada em moldes estéticos, recordaremos apenas o rumor festivo que correu em seu ambiente numa revoada alegre de suaves harmonias.”
“Pelas nove horas da noite, cerca de quinhentas pessoas percorriam em todas as direções e em todos os pavimentos do recinto iluminado e festivo, os camarotes repletos de gentis senhoras tinham a mais agradável perspectiva, onde os tons frescos da primavera adornavam os encantos plásticos da beleza feminil”.
“Declarando o Exmo. Sr. Dr. Presidente da província inaugurado o theatro e depois de haver levantado vivas ao imperador, à Constituição e ao povo paraibano, as duas músicas, do Corpo de Polícia e do 27, executavam no palco e em perfeita combinação o Hino Nacional.”
“O Sr. Dr. Antônio Bernardino dos Santos, tomando a palavra, discursou brilhantemente sobre o acontecimento e em seguida teve lugar um concerto executado pelas duas bandas de música.”
“Iniciou o concerto um belíssimo trecho de “Norma”, habilmente interpretado em violino pelo Sr. Plácido Cézar, Música de Bellini, com as elevações e blandícias do gênio e da escola italiana, sempre nova, arrebatadora e tocante. O Sr. Cézar, com sua percepção atilada, de artista exímio, deu-lhe uma compreensão exacta, o que lhe valeu uma manifestação estrondosa de palmas. Seguiu-se a polca Estrela Errante, solo em piston pelo Sr. José Evangelista Moreira Franco.
Execução completa, notas suavíssimas fizeram prorromper em aplausos a multidão comovida. Uma variação da ópera Luísa Miller, de Verdi, em requinte, pelo Sr. Laurentino Nunes de Souza e um trecho lindíssimo de clarinete do maestro Eugênio Peroli, pelo Sr. Sancho Gomes de Lima encerraram com uma profusão de melodias a
parte artística da festa inaugural”.
“Reunidos todos os convivas no salão, aí, depois de lido e assinado pelo Exmo. Sr. Dr. Gama Roza um termo de inauguração, escrito em álbum de veludo azul, assinaram este termo todas as senhoras e cavalheiros, seguindo-se uma íntima e agradabilíssima soirée.”]
“Prolongou-se a dança até 2 horas da madrugada, quando foi servida lauta mesa. Os brindes correram expansivos e encomiásticos e neles o Exmo. Sr. Dr. Gama Roza teve uma manifestação entusiástica de gratidão e louvor por haver legado à sociedade paraibana um importante monumento, que sendo um ponto central de diversões, é ao mesmo tempo uma escola em que se aperfeiçoam os costumes e a moral social. Às 4 horas continuaram as danças que se prolongaram até às 6 horas da manhã, retirando-se então satisfeitíssimos todos os convivas, já quando o sol de um novo dia se anunciava no horizonte glorioso.”