Um Fante que poucos conhecem
De vez quando a literatura me surpreende. Durante muito tempo, tive em Charles Bukowski, Jack Kerouac e William Burroughs como expoentes da chamada geração Beat. Rebeldes com uma literatura despojada, agressiva e, especialmente, instigante, com viés escatológico. A geração Beat injetou adrenalina nas veias da literatura americana.
Impossível ficar impávido ao ler um livro como “E os Hipopótamos Foram Cozidos em Seus Tanques”, assinado por Kerouac e Burroughs, baseado inclusive em fatos reais. Um assassinato, entre amigos mais próximos. O mesmo se pode dizer de “On the Road”, de Kerouac. Não se fica indiferente após ler alguns contos, poesias ou romances de Bukowski. Seco como um conhaque, mas igualmente embriagador.
Sempre imaginei que eles tinham criado uma nova escola literária. Até conhecer John Fante. Filho de imigrantes italianos, Fante nasceu no Colorado e se tornou uma importante referência para toda uma geração, apesar de não ter conseguido a mesma projeção que o pessoal da geração Beat, a quem inspirou.
Agora, responda rápido: você já leu Fante? Pois deveria. É possível encontrar nas obras de Bukowski, Kerouac ou Burroghs traços importantes da influencia de Fante, especialmente em livros como “Pergunte ao Pó”, “Sonhos de Bunker Hill” ou “Espere a Primavera, Bandini”. Além desses romances, e outros como “A Oeste de Roma” e “1933 Foi um Ano Ruim”, Fante também produziu roteiros para Hollywood.
Mas, essas especialmente constituem suas principais obras e são marcadamente autobiográficas, em torno do personagem Arturo Bandini, um aspirante a escritor que deixa o meio oeste americano e segue para tentar a fama em Los Angeles, Califórnia. Tal como ele próprio fez na juventude. Quem tiver o cuidado de ler, vai encontrar as sementes da moderna literatura americana. O curioso é que Fante não simpatizava com a… geração Beat.
Fante, que nasceu em 1909, contraiu diabetes e, no final da vida, já cego, ele só conseguia manter o seu ofício de escritor, ditando os textos para sua esposa Joyce (na foto com Fante), até 1983, quando faleceu aos 74 anos. Mas, deixou uma obra marcante, que escritores mais atuais como Paul Auster, Franzen, Nicole Krauss e Jennifer Egan, por exemplo, não podem omitir a influência.