Uma ameaça à democracia brasileira, confira com Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena, em sua mais recente crônica, lamenta o nível de intolerância que vem marcando a política no País, em função da polarização exacerbada entre grupos ideológicos antagônicos. Uma intolerância que “que afeta diversas camadas de relações pessoais, sejam elas entre familiares, contatos sociais, no lugar do trabalho ou interações em redes sociais”.
Confira a íntegra de seu comentário “Polarização política”:
Mais uma ameaça à democracia brasileira… Desta vez trata-se da polarização política gerando um elevado índice de intolerância, que supera a média internacional de 27 países, observados em uma pesquisa recente do Instituto Ipsos. Estudo focado no radicalismo que permeia discursões político-partidárias, algo presente nas interações entre brasileiros. Segundo o instituto, 32% dos brasileiros acreditam que não vale a pena tentar dialogar com pessoas que tenham visões políticas diferentes das suas. Observa-se no nosso dia-a-dia um alto nível de intolerância, que afeta diversas camadas de relações pessoais, sejam elas entre familiares, contatos sociais, no lugar do trabalho ou interações em redes sociais. Diferenças reforçadas quase sempre por distorção de fatos, falta de curiosidade intelectual ou pelo viés cultural.
Quando questionados se o País corre mais ou menos perigo com pessoas com opiniões políticas diferentes do que há 20 anos, 44% dos brasileiros acredita que há mais perigo atualmente. A polarização no Brasil é um produto da secularização de princípios religiosos e é ligada a diferentes valores morais embutidos na retórica de disputas políticas. As eleições do passado realçavam diferenças de projetos políticos, não valores do ponto de vista moral, em termos de religião ou preferencias culturais. A eleição presidencial, transformou-se em uma épica batalha entre o “bem” contra o “mal”, radicalizada pela exuberância irracional sobre o misticismo político do vencedor.
A falta de um genuíno debate político é preocupante para o País. Segundo Marcos Calliari, CEO do Instituto Ipsos, “[…] a intolerância tem a ver com o voto ‘anti-oposto’ […]”. Eleitores não apoiam uma causa que acreditam, mantendo e reforçando assim a intolerância, tendência que se reflete na família, no contexto educacional, na hierarquia das empresas, uma combinação de fatores que desestimula o diálogo e a transformação de opiniões distintas em diálogo construtivo.