Vazamento de mensagens põe a Operação Lava Jato nas cordas
Por qualquer ângulo que se observar, o vazamento das conversas do ex-juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol não cheira bem. No mínimo, seria o caso de se admitir que os fins justificam os meios, e esse não deveria, meu caro Paiakan, ser o comportamento da Justiça. Pelo simples fato de que deixa o cidadão na insegurança jurídica e, especialmente, indefeso ante o sistema.
São inegáveis os avanços obtidos pelas investigações da Lava Jato. O País mudou com a operação, que, certamente, irá mudar os costumes de boa parte de agentes públicos. Não todos, é verdade, porque existem os incorrigíveis. Mas, os avanços não podem ser pretexto para o descumprimento das leis. O devido processo jurídico deve se dar dentro da legalidade. Ou não é estado de direito.
O vazamento das mensagens foi deplorável, porque pressupõe uma atividade criminosa de invasão da privacidade, tão maléfica quanto os crimes que tenta denunciar. Porém, é preciso observar que as revelações, uma vez que foram tornadas públicas, são por demais graves para não serem tratadas com o rigor que merecem.
Conversas – Segundo o site The Intercept, o procurador Dallagnol e outros trocaram mensagens com Moro sobre alguns assuntos investigados, o que seria vedado pela legislação. Ainda segundo o site, Moro teria orientado ações e cobrado novas operações do Ministério Público Federal. Em um dos diálogos, Moro teria perguntado a Dallagnol: “Não é muito tempo sem operação?” Dallagnol, então, concorda: “É, sim.”
Em outro trecho das interceptações, Dallagnol teria solicitado a Moro para decidir rapidamente sobre um pedido de prisão: “Seria possível apreciar hoje?” E Moro teria respondido: “Não creio que conseguiria ver hoje. Mas pensem bem se é uma boa ideia.” Alguns minutos após, Moro teria respondido ao procurador Dallagnol: “Teriam que ser fatos graves”. O site publicou vários outros trechos.
Moro – O ministro Sérgio Moro emitiu nota, denunciando que teve, há poucos dias, seu celular hackeado, e pontuou, afirmando que, no conteúdo das mensagens que citam seu nome, “não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato.”
Força tarefa – Já a força tarefa da Lava Jato, comandada por Dallagnol, publicou nota em que afirma: “Quanto ao conteúdo das mensagens que me citam, não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato.”