CRIME DE BRUNO ERNESTO Sete anos após execução família ainda espera por Justiça: “Quando os mandantes serão presos?”
Há exatos sete anos a Paraíba foi surpreendida por um dos crimes mais brutais registrados no Estado: o assassinato do jovem Bruno Ernesto. O caso foi tratado, inicialmente, como latrocínio, num inquérito policial realizado em tempo recorde e seis pessoas foram sentenciadas. Ocorre que, desde o princípio, foram suscitadas dúvidas sobre a possibilidade de execução.
Execução e queima de arquivo. Por que? Primeiro, a urgência na conclusão do inquérito, inusitado para este tipo de crime. Segundo, a perícia sequer verificou a origem da arma e das munições utilizadas no assassinato. Depois, todos os pertences de Bruno Ernesto foram recuperados pela polícia, à exceção do seu notebook. Onde, coincidentemente, estavam todas as informações do Jampa Digital.
E o Jampa, como se sabe, foi um dos maiores escândalos ocorridos, nos últimos tempos, na Paraíba. Pela ousadia como o ilícito foi cometido. Pela afronta ao cidadão, que tentou acessar a Internet pelo Jampa e nunca conseguiu. E pelo uso intenso de um programa que não funcionou, durante a campanha eleitoral de 2010, pelo então candidato Ricardo Coutinho, como se fosse uma façanha tecnológica que iria levar pra todo Estado.
Inquérito 1.200 – Atualmente, o assassinato de Bruno Ernesto está sob investigação pelo Superior Tribunal de Justiça, através do Inquérito 1.200. Segundo informações extraoficiais, o processo já conta com parecer da Procuradoria-Geral da República, e está nas mãos do relator, o ministro Félix Fischer, que poderá indiciar os investigados, federalizar o crime, ou devolver o inquérito para a Paraíba, uma vez que um dos investigados, o ex-governador Ricardo Coutinho, perdeu o foro privilegiado.
Cardozo – O ex Ricardo Coutinho constituiu, como advogados, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, além de Márcio Lopes de Freitas Filho e Renato Ferreira Moura Franco para o caso, os mesmos que ele contratou para a sua defesa na Ação Penal 866, na qual é réu, por doze crimes de responsabilidade, conforme o ministro Luís Felipe Salomão.
Os pais de Bruno, Inês Ernesto do Rego Moraes e Ricardo Figueiredo de Moraes chegaram a peticionar para ter acesso aos autos, através do advogado Aluízio Régis Filho, mas o ministro Fischer negou. “São sete anos de suplício para a nossa família. São claríssimos os indícios de que houve execução, mas, até hoje, a Justiça não chegou aos mandantes. Quem são os mandantes? Quando serão presos?” Temos certeza que o crime foi queima de arquivo por conta do escândalo do Jampa Digital”, lamenta Inês.
Mistério – O mistério neste inquérito é que o governador Ricardo Coutinho, por uma razão ainda não explicada, peticionou nos autos (processo nº 2017/0211846-5), através do advogado Sheyner Asfóra, em 12 de setembro de 2017.
Arma e munições – As armas só foram identificadas graças a uma investigação paralela realizada pelos pais de Bruno, como sendo dois revólveres marca Taurus (da Companhia Brasileira de Cartuchos), com numeração ND95941 e1180890. Também se descobriu que as munições usadas no crime foram de calibre 38 tipo SPL + P de marca CBC Hollow Point (dumdum) com o seguinte numeração de lote “AHQouO92”. Também foi elucidado que as armas e as munições foram adquiridas pelo governo do Estado.
O crime – Quando foi assassinado (em 7 de fevereiro de 2012), Bruno Ernesto era diretor de Infraestrutura e Suporte da Prefeitura de João Pessoa, por isso sua inevitável associação com o escândalo do Jampa Digital, já que ele era um dos coordenadores do programa que, dois anos depois, foi escândalo nacional, com uma extensa reportagem do Fantástico (Rede Globo). Mais em https://goo.gl/q8u8Jd.
Naquela noite de fevereiro, por volta das 19h, Bruno foi sequestrado pela quadrilha próximo à sua residência, no bairro dos Bancários, colocado na mala do próprio carro (um Corsa Sedan) e levado a uma área deserta da Zona Sul. Após se apropriarem de seus bens, inclusive um notebook, ele foi assassinado com um tiro na nuca, mesmo pedindo para não ser morto. Revelação de um dos criminosos.
Também restou comprovado que eles sabiam de toda a rotina de Bruno, antes de executar o plano. Tinham, como se suspeitou, informações privilegiadas sobre seu trajeto.
Eles foram presos, quando dirigiam o carro por um bairro de João Pessoa. Segundo o inquérito, concluído poucos meses depois, o caso foi de latrocínio. Os sete foram julgados e condenados, com pena máxima. E o caso foi dado como encerrado.
Execução – O tiro na nuca, para a Polícia, é sinal de execução. Às vezes, por encomenda. Em entrevista à Imprensa, alguns bandidos chegaram a admitir terem sido contratados para realizar “o serviço”.
Mais sobre a reportagem com entrevistas com os bandidos em http://goo.gl/Terk9f
CONFIRA O VÍDEO DA REPORTAGEM…