PENSAMENTO PLURAL Não vai ter golpe, por Rui Leitão
Em sua crônica deste 7 de Setembro, o escritor e historiador Riu Leitão postula como os “déspotas desejam ter autonomia para dar ordens e tomar decisões, sem que tenham a obrigação de dar satisfações a outros órgãos de soberania”. Mas, segundo Rui, o povo brasileiro tem reagido contra certos arroubos autoritários, em nome do fortalecimento de nossa democracia. Confira íntegra de seu comentário…
O desejo de impor o poder absoluto é uma característica do velho golpismo latino-americano. Sempre entram em cena os simpatizantes do autoritarismo, alimentando o delírio de que possam governar fora das definições constitucionais. Na intenção de alcançarem seus objetivos, provocam crises institucionais, atacando os poderes judiciário e legislativo.
Esquecem os golpistas que, na democracia moderna, não há espaços para êxito de movimentos que intencionam estabelecer um sistema de governo no modelo clássico do autoritarismo. Fazem a defesa de que deve prevalecer a ideia de um único poder justo, antepondo-se aos outros poderes constituídos, agredindo os princípios básicos do Estado Democrático de Direito. Impossível exercer a cidadania na sua plenitude quando a sociedade está sob o jugo de um regime totalitário.
A centralização ilimitada do poder nas mãos de um governante é a principal característica dos sistemas políticos em que se exerce a autocracia. Os déspotas desejam ter autonomia para dar ordens e tomar decisões, sem que tenham a obrigação de dar satisfações a outros órgãos de soberania. Eles se julgam representantes de Deus na Terra, e, por isso mesmo, seus liderados lhes devem obediência sem oferecer qualquer tipo de resistência e sem fazer questionamentos.
Na contemporaneidade nacional, tem surgido um movimento no sentido de promover subversão da ordem institucional ora constituída, na tentativa de aplicar um golpe de Estado. Lideranças políticas, que assumem um viés ideológico de extrema direita, insistem em atacar a nossa democracia que, apesar de suas imperfeições, é resultado de uma construção coletiva que envolveu toda a sociedade na luta contra a ditadura militar que se instalou em 1964.
É uma aventura que não conta com o apoio das pessoas de responsabilidade no país. Não interessa ao mercado, que vê nessa peripécia política, o risco de se agravar o cenário econômico nacional, afugentando investidores e dificultando a possibilidade de um desenvolvimento sustentável. A opinião pública igualmente tem se manifestado contrária a esses arroubos autoritários do presidente da república, uma vez que está sentindo no bolso as consequências dessa desastrada intenção golpista, concorrendo para que a instabilidade política produza efeitos traumáticos na vida social dos brasileiros. Apenas um quarto da população aplaude esses delírios antidemocráticos, constituindo-se, portanto, numa minoria que faz barulho e se alimenta das bravatas de seu líder.
Os oficiais de alta patente das Forças Armadas, em sua grande maioria, também não compartilham desse projeto de ruptura institucional, porque não lhes convém herdar um país dramaticamente polarizado, com a economia em frangalhos, e inúmeros problemas sociais que demandam o enfrentamento de desafios que exigem construção coletiva, portanto, união nacional. Sem falar no inevitável isolamento internacional a que estaríamos submetidos se essa aventura se concretizasse.
Buscam criar um ambiente de tensão social, inclusive incentivando um clima de confronto que possa facilitar o alcance dos seus objetivos. Vivem imaginando uma realidade paralela que se configura em farsa, blefe, teatro de má qualidade. A sabedoria popular nos ensina que “cão que ladra não morde”.
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