PENSAMENTO PLURAL Ramerrão político, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena observa, em sua crônica, como os “partidos políticos e ideologias agregados em federações, manifestos e declarações” se anunciam, ou se denunciam, como “novas e antigas parcerias políticas sem nenhuma conexão com a conjuntura econômica”. Na verdade, uma “grande confusão de valores mentais, associada ao oportunismo cínico e pessoal, confundindo a coisa pública com o indivíduo”. Confira íntegra de seu comentário…
Partidos políticos e ideologias agregados em federações, manifestos e declarações anunciando ou denunciando novas e antigas parcerias políticas sem nenhuma conexão com a conjuntura econômica, os sonhos ou pesadelos do eleitorado. Ódios e interesses pessoais cavalgando unidos nas estradas que pavimentaram com recursos do Erário. Todos comprometidos, seguros nas suas selas, parecendo dizer cinicamente: os rebanhos de ovelhas sempre nos seguirão. Desdenhando tudo que fosse moral, ético ou coerente. Ofuscados pelo nevoeiro da ignorância servil, memórias e recordações dos pecados, perfídia ou mediocridade dos cavaleiros.
Políticos subvertendo o processo democrático com promessas de benesses, cargos de confiança para parentes ou apadrinhados, emendas parlamentares, privilégios obtidos graças a falta de fair play dos maratonistas do poder. “A República sobreviverá até o Congresso descobrir que pode subornar o povo com seu próprio dinheiro”, afirmou Alexis de Tocqueville. “Orçamento Secreto”, verbas bilionárias disponibilizadas pelo Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e o Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos, quando somados a tentativas não tão republicanas de dessecularizar a educação pública, a saúde e os direitos humanos pelo Governo, são sinais preocupantes da legitimação de atentados e desrespeito as instituições democráticas brasileiras e o próprio estado democrático de direito.
Reflexão do escritor inglês Gilbert Chesterton sintetiza fielmente atitudes atuais, sobre o modo de fazer política no Brasil: “[…] eles disseram que eu deveria perder meus ideais e começar a acreditar nos métodos de políticos práticos. Agora, eu não perdi meus ideais, no mínimo, a minha fé nos fundamentos é exatamente o que sempre foi. O que eu perdi foi a minha fé infantil na prática política.” Sentimento refletido na baixa adesão de jovens entre 16 e 18 anos a tirar o título de eleitor. Percepção de que os adolescentes têm da política e dos políticos geralmente gira em torno da corrupção; campanhas e federações partidárias não são capazes de evocar imagens positivas. Paradoxalmente, o voto aos dezesseis anos foi uma conquista do movimento estudantil, incorporada à Constituição de 1988.
Corrupção adquirindo características endêmicas no cenário político partidário brasileiro. Partidos e candidatos prometem acabá-la, renegando a promessa prontamente, quando chegam ao poder. Tornando-se incapazes de penetrar as barreiras erguidas pelo grande comprometimento corrupto entre os detentores e manipuladores do poder. Grande confusão de valores mentais, associada ao oportunismo cínico e pessoal, confundindo a coisa pública com o indivíduo. Tomando o valor prático do pragmatismo econômico, como critério da verdade e criando uma falsa meritocracia como vigas de sustentação, da espécie política que floresce nos pântanos da nossa imaturidade democrática, espelhando o niilismo do “Leopardo” de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, “se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude”…
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