PENSAMENTO PLURAL A importância de corrermos riscos, por Ricardo Sérvulo
Quando ventilamos a hipótese de corrermos riscos, aportamos num significado que descreve-se numa situação ou condição que nos coloca sob determinado perigo de nos expormos a algo, ou de perdermos alguma coisa, e leia-se: nos mais variados aspectos e prismas das alamedas do trem condutor da vida.
Essa possibilidade, por normal, nos impõe medo, ansiedade e aflição, uma vez que temos necessidades básicas físicas, matérias, afetivas e emocionais; somos humanos, inegavelmente limitados, e por mais que não queiramos admitir gozamos de uma condição bem primitiva, qual seja: comermos, bebermos, vestirmos, termos um teto, procriarmos e sentirmo-nos gente, notados. Obviamente, “isso é viver”, como diz o primoroso poeta, cantor e compositor alagoano, Djavan, em uma de suas belíssimas canções.
Noutra inflexão, o fato é que, desafiando esse medo de subtração daquilo que temos, guardamos ou estocamos; em tal proceder existe o risco também de, por inação, terminarmos a ficar na iminência de desperdiçarmos o que possuímos, e de idêntico modo isso é um desalento, rima com incapacidade pessoal. A fronteira é exatamente essa: correr riscos envolve treinar a sua mente para compreender o que precisa ser feito, aprender a enxergar o que está acontecendo, e ter a coragem de dar um passo além, avançar.
Como dissemos, não correr riscos pode ter o mesmo efeito que é o de expor ao perigo de perder aquilo que você mais almeja e estima manter, conservar. Objetivamente, é fundamental indagarmos: o que de concreto temos na vida? Resposta: só a certeza de sua finitude, com o apagar da chama existencial, a morte, o ocaso. Contudo, o grande desafio é discernirmos onde, como, quando, e até que patamar podemos correr riscos. Certa feita, eu estava para abrir uma loja de vinhos e queijos, aí perguntei a um primo meu, muito querido: bicho, o que tu achas de eu colocar um comércio de vinhos finos, queijos e embutidos? Respondeu ele: estipule um limite, um valor máximo que você pode perder de seu dinheiro na empresa – a partir daí, tu tens o dever de frear para não comprometer teu patrimônio e de tua família.
Aquilo não me saiu da cabeça e pus em prática rigorosamente o conselho de meu parente próximo, em si, um irmão. No final, abri a delicatéssen, passei dois anos com ela e o negócio não prosperou. Mas de uma coisa tenha certeza: eu delimitei o teto até onde poderia perder de minhas reservas e isso me blindou de um prejuízo maior.
Você me pergunta: você se arrependeu? Não, óbvio que não. Esse risco-experiência me deu a certeza das dificuldades de ousar empreender nesse país, onde os entre estatais enxergam o empresário como um sócio e algo a ser combatido, caçado (isso é pouco inteligente e patético), tudo aqui é dificuldade para a iniciativa privada crescer. Não dá pra entender; e até imagino, mas falo isso noutra crônica.
O convite à presente reflexão é pois a necessidade que temos de correr riscos, tentar, levantar a cabeça e fitar o arco-íris, dar um passo em direção aos nossos sonhos, novos campos verdejantes e com muito viço.
Imagine o que seria de nós se não fossem os desbravadores que se aventuraram nos mares agitados das incertezas, do supostamente inatingível, dos que se colocaram a riscos verdadeiros. A natureza humana clama por desafios, Deus inoculou essa faísca de energia que nos alavanca a conquistar o algo a mais… isso nos tirou das alturas do abrigo das árvores e das cavernas, e nos fez desembarcar nas planícies das savanas para nos expormos às situações de risco de vida? Sim. Entretanto nos elevou à condição de dominar as feras e até caçá-las subjugando-as às nossas vontades e domínios.
O destemor em executar a proposta de arriscar, claro, que de forma calculada e prudente, com margem de segurança, sempre nos elevará ao aperfeiçoamento em nossos estágios e em nossas qualidades na odisseia vivencial.
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