PENSAMENTO PLURAL Sofisma ideológico, uma realidade pós-moderna, por Ricardo Sérvulo
A Grécia juntamente com Roma e seu fabuloso império, este, com o domínio e manutenção de grandes territórios ajudaram a formar o tecido uterino que gestou a civilização ocidental. Os gregos foram prodigiosos não só na arte da guerra e em suas estratégias alexandrinas, mas também na cultura, arquitetura, artes e, por excelência, na filosofia e na criação da retórica, quando das disputas dos despojos de guerras e futuras brigas judiciais em seus terrenos forenses a legitimarem a posse e propriedade de tais saldos e dividendos bélicos. Daí nasceram os primeiros advogados, autores inaugurais da fala defensiva jurídica.
O engenho grego também produziu técnicas de comunicação e domínio da manipulação da cognição. Constatação disso, é pois, a utilização do chamado artifício do “sofisma”; um argumento ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir a ilusão da verdade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta na realidade uma estrutura interna inconsistente, incorreta e deliberadamente enganosa. Assim, diz-se de uma argumentação que aparenta verossimilhança ou veridicidade, mas que produz involuntariamente incorreções lógicas; paralogismo.
Pois bem, o sofisma ideológico é taxativamente essa ideia, onde há suposta viabilidade, aparente plausibilidade de verdades ideológicas e paradigmas sociais, econômicos, políticos e jurídicos suficientemente seguros “para os mais desavisados”, a ponto de o indivíduo acreditar que se encontra numa caminhada correta, de tal sorte que não existe outro rumo a não ser o de aderir a um senso de participar de um “woodstock ideológico”, lugar onde não existe vida inteligente fora dessa bolha alienante.
Nesse passo, pode-se afirmar que é como a velha alegoria do gato que parece coelho e do coelho que parece gato: com pelo, bigode, cores correlatas e jeitões peculiares um do outro. Contudo é um profundo engodo, uma enganação, um artifício ardil para ludibriar, uma mentira.
Nessa empreitada muitas “ovelhas úteis”, em boa parte, jovens, com extrema pureza no coração partem para o “matadouro do sofisma ideológico”, e logo começam a cantar as suas músicas, usar os seus símbolos, passam a fazer os gestos e saudações e findam por desenvolverem hábitos e ritos culturais padronizados, pois a manobra ilusória fora inoculada em suas mentes e em seus grupos sociais de uma maneira tão eficiente, que a possibilidade de libertação é bem remota, em verdade, quase nula, se não for pelo motivo da dependência alienante, seja por medo da reprovação da tribo a que pertence.
Esse fenômeno sócio-político-ideológico é tão forte que até a língua pátria é modificada, sofre ataques impensáveis, absurdos, chegando às raias do ridículo, do vexatório (digno da chamada “vergonha alheia”). Não raro aparecerem “novilínguas” que tentam forçar a exclusão da norma culta, o que nem precisa dizer que é um tremendo equívoco e nada inteligente. É uma espécie de “imbecilês” coletivo, um dialeto do “politicamente correto”.
A “novilíngua” manipula, suprime ou recompõe vocábulos para dominar a linguagem e o pensamento. O chamado “politicamente correto” já fez muito disso e já foi longe demais, não tem mais limites. Vocábulos triviais foram carimbados como impróprios e se converteram no que Orwell talvez chamasse de “impalavras” ou “despalavras”. Ao sumirem, por supressões e patrulhamentos, some a ideia que expressam, e é restringido aquilo que podemos pensar.
No “politicamente correto”, usa-se e abusa-se dos eufemismos, trocando-se palavras fortes por palavras leves para tornar “palatável” o que deveria ser rejeitado, exemplo: a palavra aborto – é trocada pela expressão, “interrupção da gravidez”. Isso tira o peso às pessoas, de um tema que é amplamente reprovado pela sociedade brasileira.
O fato é que, constitui questão de alerta máximo à vigilância contra as máscaras forjadas em límpida pele de cordeiro, que revestem um caráter perigoso, totalitário, tirânico e como a história nos traduz: verdadeira máquina ideológica de treinar, condicionar e alienar as pessoas, repita-se: especialmente os jovens, valendo-se de sua intocabilidade e inocência culturais para o exercício das escravaturas em todos os aspectos, nas medidas e moldes mais clássicos e deploráveis.
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