Sem liderança firme a oposição vai se tornando presa fácil de RC
Claro que esse noticiário interessa diretamente ao governador Ricardo Coutinho. Num dia, o ex-senador Wilson Santiago sinaliza para deixar o PMDB, no outro, especulações de adesão do deputado Gervásio Filho. Logo depois, relises governamentais inundam a mídia dando conta da adesão de prefeitos ao seu projeto de reeleição.
Na reabertura dos trabalhos na Assembleia, alguns deputados acusaram a ofensiva do governador para esvaziar o PMDB. O deputado Trócolli Júnior foi um deles, que lamentou, não apenas a saída de alguns líderes como Santiago e Gervásio, mas também de prefeitos atraídos pelas benesses oferecidas pelo Palácio da Redenção de olho em 2014.
Há dois pontos a se considerar. Para alguns prefeitos, é muito difícil resistir ao assédio de um Governo que, em tese, está com bala na agulha, dinheiro em caixa, ainda que tenha extrapolado nas despesas com pessoal, e ande na mira da Justiça, por descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. E o Governo age de forma absolutamente desbragada.
Uma prática que RC tanto condenou em outros governos tem sido largamente utilizada. A sua fórmula foi simples: demitir 30 mil servidores, cortar benefícios salariais, como os casos do Ipep e do Fisco de outras tantas categorias, não pagar a PEC 300 dos policiais e tal. Tudo para economizar em 2011 e 2012. Ele fez caixa com essas perseguições e agora distribui bondades com os prefeitos.
Outro ponto a se considerar é a clara ausência de uma liderança consistente de oposição, capaz de fazer frente à ofensiva governamental. Não existe, a preço de hoje, um líder com envergadura e coragem para se contrapor ao Governo RC e gerar expectativas futuras de poder. Existe a candidatura de Veneziano, talvez outra do PT (e assemelhados), mas uma voz forte combativa, não.
Quem seriam os candidatos a essa vaga de líder nas oposições? Zé Maranhão poderia ser, mas não vem cumprindo esse papel. Talvez ainda falte dinâmica para se articular com as demais forças de oposições além do PMDB. Não votar em Luciano Cartaxo fechou portas com o PT. Cícero Lucena? O senador claramente não parece, nesse momento, interessado nesse embate com o Governo.
O ex-prefeito Veneziano? Poderia ser. Mas, talvez o mister de sua candidatura ao Governo iniba algunas de suas ações políticas de aglutinação com outras forças de oposição. Poderia ser o senador Vital Filho, mas a verdade é que ele não tem demonstrado apetite nesse direção. Alguem do PT? Talvez só o prefeito Luciano Cartaxo tenha, atualmente, embocadura. Mas, é evidente seu desinteresse nesse papel.
O ministro Aguinaldo Ribeiro? Ele até andou se insinuando. Mas, certamente está travado, porque não seria estrategico, pelo menos para o Palácio do Planalto, ter um ministro indisposto com um governador do PSB (ainda) aliado. O presidente Ricardo Marcelo? É uma possibilidade. Ele tem liderado uma resistência importante na Assembleia. Mas, talvez não queira assumir esse figurino agora.
Então, sem um comando firme nas oposições, a tendência será de fato o governador avançar mais facilmente num projeto de esfacelamento das forças de oposição, usando os instrumentos legais ou ilegais de quem dispõe. E Ricardo, diferente do que fora o vereador ou o deputado estadual, usa esses instrumentos sem qualquer pudor. De forma desbragada.