PENSAMENTO PLURAL O desafio do DeepSeek e o futuro da Inteligência Artificial, por Palmarí de Lucena
O escritor Palmarí de Lucena adverte como o DeepSeek-R1, modelo de IA lançado por uma start-up chinesa, desafia a liderança da OpenAI ao oferecer desempenho semelhante ao ChatGPT a um custo menor. “Sua transparência contrasta com o sigilo das empresas americanas, gerando oportunidades e desafios”, Lembra e ainda: “Enquanto pesquisadores celebram, o avanço desperta preocupações nos EUA sobre concorrência tecnológica e influência geopolítica da China.” Confira íntegra…
Na semana passada, um novo concorrente surgiu para desafiar o domínio da OpenAI no setor de inteligência artificial. A start-up chinesa DeepSeek lançou o modelo DeepSeek-R1, que, segundo seus criadores, alcança um desempenho similar ao ChatGPT mais avançado, mas com um custo bem menor. Esse avanço gerou preocupação entre especialistas e empresas americanas, levantando alertas sobre a crescente concorrência tecnológica entre os EUA e a China.
Ao mesmo tempo, o DeepSeek tem sido amplamente elogiado. O aplicativo rapidamente se tornou o mais baixado na App Store dos EUA, e pesquisadores e investidores o consideram uma grande inovação. O investidor Marc Andreessen chamou o modelo de “uma das descobertas mais impressionantes” e Yann LeCun, da Meta, destacou a importância da pesquisa aberta.
O grande diferencial do DeepSeek não é apenas seu desempenho, mas também sua transparência. Diferente das empresas americanas de IA, que mantêm suas pesquisas em sigilo, a DeepSeek permitiu que seu código e documentação fossem acessados por qualquer pessoa. Isso pode beneficiar startups e pesquisadores de todo o mundo, mas também representa um desafio para as empresas americanas, que precisam lidar com essa nova concorrência.
Para entender a relevância desse avanço, basta lembrar que, recentemente, a OpenAI lançou um modelo inovador, chamado o1, que trouxe novas capacidades de raciocínio para inteligências artificiais. No entanto, a OpenAI compartilhou poucos detalhes técnicos, enquanto a DeepSeek, em menos de dois meses, conseguiu replicar e tornar acessível uma tecnologia semelhante. Apesar das dificuldades que a China enfrenta para acessar chips avançados, a start-up chinesa conseguiu avançar graças a melhorias no software e otimização dos recursos disponíveis. O custo para treinar uma versão anterior do DeepSeek foi inferior a US$ 6 milhões, um valor muito menor que os bilhões investidos pelas grandes empresas americanas em seus modelos mais recentes.
A ascensão do DeepSeek também criou um dilema: enquanto alguns veem a China como uma ameaça tecnológica, outros comemoram a democratização da IA. Para startups e pesquisadores, esse modelo mais aberto é uma grande conquista. Já para as grandes empresas americanas e o governo dos EUA, o impacto ainda é incerto. O entusiasmo em torno do DeepSeek chegou a afetar o mercado de ações, levando à queda de empresas como Nvidia, Alphabet e Microsoft.
A influência crescente da IA chinesa também gera questões políticas. O DeepSeek não responde perguntas sobre eventos polêmicos na China, como o massacre da Praça da Paz Celestial, o que levanta dúvidas sobre sua imparcialidade. O governo americano teme que a IA fortaleça a influência da China no mundo, mas não conseguiu impedir o avanço tecnológico do país.
O futuro da corrida pela IA ainda é incerto. A OpenAI planeja lançar novos modelos ainda mais avançados, enquanto a indústria americana explora caminhos como inteligências artificiais autônomas. No entanto, o DeepSeek mostrou que um modelo aberto pode ter vantagens sobre o sigilo das grandes empresas. Se a IA chinesa continuar transparente e acessível, poderá estabelecer novos padrões globais, como aconteceu com o sistema operacional Linux. A grande ironia é que, enquanto os EUA, um país democrático, caminham para mais restrições, a China, um regime autoritário, parece avançar na direção da abertura.
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