PENSAMENTO PLURAL O Papa Francisco e a moral cristã contra a xenofobia política, por Palmarí de Lucena
O Papa Francisco condenou as deportações em massa do Governo Trump, reafirmando o compromisso cristão com a dignidade humana. “Em carta aos bispos dos EUA, criticou a xenofobia e a distorção teológica de J.D. Vance. Defendeu uma Igreja inclusiva, rejeitando o uso político da fé para justificar exclusão e desigualdade”, observa o escritor Palmarí de Lucena em sua nova crônica. Confira íntegra…
Em um momento histórico de confronto entre moralidade e política, o Papa Francisco emitiu uma reprimenda contundente ao governo Trump e às forças ultraconservadoras dos Estados Unidos por seu tratamento cruel aos migrantes. Em uma carta dirigida aos bispos norte-americanos, Francisco reafirmou o compromisso da Igreja com a dignidade humana e condenou explicitamente as deportações em massa como uma prática desumana e contrária aos valores cristãos.
A intervenção do Papa, que normalmente evita se aprofundar na política interna de países específicos, representa um marco na posição do Vaticano contra a xenofobia institucionalizada. Citando o Livro do Êxodo e a jornada de Jesus Cristo como refugiado, Francisco reforçou que Deus é “sempre próximo, encarnado, migrante e refugiado”. A mensagem é clara: aqueles que se dizem cristãos, mas negam aos migrantes seu direito à dignidade, estão se afastando do verdadeiro ensinamento de Cristo.
Os chamados cristãos do movimento MAGA (Make America Great Again) entraram em colapso com essa declaração, especialmente após a crítica direta a J.D. Vance, senador republicano e convertido ao catolicismo. Vance distorceu um conceito teológico medieval conhecido como “ordo amoris” para justificar a prioridade dos interesses dos americanos sobre os dos imigrantes. Mas a resposta do Papa foi afiada: “O amor cristão não é uma expansão concéntrica de interesses” e não pode ser usado como justificativa para discriminação. A solidariedade cristã autêntica é universal e não hierárquica.
A posição de Francisco não é meramente política, mas sim uma reafirmação dos valores fundamentais da fé católica. Ele rejeita a instrumentalização da religião para justificar nacionalismos excludentes e denuncia a hipocrisia de quem usa a fé para sustentar políticas de repressão e desigualdade.
A Igreja, segundo Francisco, deve continuar a lutar ao lado dos migrantes e refugiados, proclamando Jesus Cristo não como um símbolo de exclusão, mas como um exemplo de amor incondicional. “Deus recompensará ricamente tudo o que vocês fazem pela proteção e defesa daqueles que são considerados menos valiosos, menos importantes ou menos humanos!”, escreveu o Papa, reforçando que a fé não deve ser usada para separar, mas para unir e proteger.
O choque entre o Papa Francisco e os ideólogos do MAGA é sintomático de um conflito mais amplo entre uma visão cristã genuína e uma apropriação oportunista da religião. Enquanto o Papa prega uma “sociedade mais fraterna, inclusiva e respeitosa da dignidade de todos”, os defensores das deportações em massa promovem uma agenda de medo, segregacionismo e intolerância.
O verdadeiro cristianismo não se mede pelo tamanho das cruzes nos pescoços de políticos, mas pelo compromisso com a justiça e a misericórdia. E, nesse embate, Francisco deixou claro de que lado a Igreja deve estar.
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