A morte daquele Umberto que nos legou um eco de genialidade
Conheci Umberto Eco com “O nome da rosa”. O início é arrebatador, e ainda hoje, utilizo a chegada triunfal de Guilherme e Baskerville e Adso ao mosteiro em minhas aulas de Lógica e Algoritmo. Grande foi a expectativa para ler o seu segundo romance, “O pêndulo de Foucault”. Ai já não experimentei mais a mesma comoção. Insisti no próximo. Em “A ilha do dia anterior”, eu me convenci de ter perdido o romancista, talvez mais preocupado, àquela altura, em mostrar erudição e escrever para outros escritores.
Foi quando descobri o pensador, crítico literário, o genial ensaísta, em “A obra aberta” e, especialmente, “Seis passeios pelos bosques da ficção”, que praticamente me obrigou a refazer a leitura de Gérard de Nerval. Tão apressado estive, não tinha compreendido o que o livro (Sylvie) de Nerval proporcionava. Então, Eco não parou de (pelo menos a mim) surpreender: “Kant e o ornitorrinco”, “Entre a mentira e a ironia” ou “Viagem na irrealidade cotidiana”. Apenas para citar alguns.
Refiz minhas impressões e, de boa vontade, redescobri Eco em outros romances como “A misteriosa chama da rainha Loana” e, mais recentemente, “Número Zero”, que me pareceu meio inacabado, ou, com um infame trocadilho, faltando talvez alguns algarismos no texto. Não gostei de “O cemitério de Praga”.
Mas, enfim, sempre tive a convicção de que ele seria Prêmio Nobel. Para mim, era apenas questão de tempo. Por isso, foi um travo amargo que soube de sua morte, nesta sexta 19. Eco foi injustiçado pela Academia Sueca, que não fez eco a um dos maiores escritores da contemporaneidade.
Bem, eu considero “O nome da rosa” um dos dez maiores romances que já li. E, se vale esse epitáfio, agradeço a Eco pelas horas de enlevo, deslumbramento e reflexões que ele me proporcionou com esse e outros de seus livros. Fica o registro do meu luto literário. Só não lamento mais, por me consolar com a fecunda e caudalosa obra que ele nos legou a todos contemporâneos.