Golpe de 64: O que há para comemorar? Confira com Kennedy Aguiar
O advogado Kennedy Aguiar enviou ao Blog longo comentário sobre as polêmicas comemorações no dia 31 de março, em relação ao Golpe de 64. E indaga: “Rememorar o quê? Os abusos praticados? As torturas perpetradas pelo poder instalado com base na força e nas armas? Talvez as mortes violentas? Ou quem sabe as crianças sequestradas; as famílias desfeitas ou a imprensa amordaçada, dentre tantos outros acontecimentos imponderáveis ocorridos nesta quadra da história?”
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Caríssimos leitores, há exatos 55 anos; na noite de 31 de março de 1964, instaurava-se no Brasil a ditadura militar, com a deposição do presidente eleito João Goulart.
Estranhamente para significativa parcela da sociedade brasileira, quiçá mundial, o atual Presidente da Republica Federativa do Brasil, o Excelentíssimo Senhor Jair que não é o Messias, mas sim o Bolsonaro, juntamente com alguns auxiliares do primeiro escalão do governo, multiplicaram-se em declarações favoráveis ao aludido regime ditatorial.
Nesta ambiência convulsionante, não poderíamos, desde já, deixar de registrar que uma postura com este conteúdo é simplesmente incompatível com o Estado Democrático de Direito.
Ao nosso sentir, a persistente tentativa de alterar a história dos anos de chumbo por parte de Bolsonaro e setores das Forças Armadas apenas tem espaço em razão de, até os dias atuais, os crimes cometidos no curso da referida ditadura não terem sido punidos como deveriam.
Contrariamente, o Brasil optou pela Lei da Anistia para favorecer o retorno à democracia.
Não obstante, cabe relembrar que em 21 anos, a ditadura fez mais de 400 mortos e 200 desaparecidos políticos no país – um fato histórico que, na visão do presidente, merece ser comemorado e/ou rememorado.
A mim me parece atitude e prioridade desnecessária/equivocada. Ora, comemorar o quê?
Pergunta-se: Rememorar o quê?
Os abusos praticados? As torturas perpetradas pelo poder instalado com base na força e nas armas? Talvez as mortes violentas? Ou quem sabe as crianças sequestradas; as famílias desfeitas ou a imprensa amordaçada, dentre tantos outros acontecimentos imponderáveis ocorridos nesta quadra da história?
Os políticos cassados e mandados ao exílio, tal qual o então candidato à presidência Bolsonaro sugeriu em comício no Acre, quando assim afirmou:
“Faremos uma faxina em que os marginais vermelhos serão banidos do país” – em referência aos seus adversários. Rio Branco, setembro/2018.
Em outro momento do referido discurso, assim asseverou o então presidenciável:
“Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre e botar esses picaretas pra correr. Já que gostam tanto da Venezuela vamos mandar essa turma pra lá”.
Talvez o atual presidente não tenha compreendido ainda a dimensão do cargo que ocupa e das responsabilidades decorrentes desta posição.
Será que o Excelentíssimo Presidente tem a dimensão de que essa postura é passível de enquadramento em crime de responsabilidade?
Pergunto: – O que é mais importante para o Brasil, “Comemorar a Ditadura” ou ver competentemente articulada no Congresso a Reforma da Previdência?
Rememorar torturas ou mostrar à nação uma gestão menos errática do importantíssimo Ministério da Educação, cuja atual representação, em 90 dias, nada apresentou enquanto metas e projetos, a não ser desentendimentos; exonerações de mais 15 servidores recentemente nomeados além de uma preocupante desinformação sem precedentes sobre a pasta.
Comemorar o Regime Totalitário no Brasil inteiro, a partir da leitura da ordem do dia que deu-se em Brasília pelo comandante Geral do Exército Brasileiro ou rever as posturas equivocadas do Exmo. Chanceler Ernesto Araújo juntamente com o Excelentíssimo Presidente Bolsonaro? O que seria mais benéfico para o Brasil?
Em outros termos… a pretensão de mudar a embaixada do Brasil em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, ou ainda, a decisão de que o MercoSul; países Árabes e ainda a China, não seriam prioridades como mercado exterior do Brasil tendo em vista o viés ideológico, são exemplos de posições no mínimo surpreendentes de que temos tido notícias nos últimos dias.
E ao que indicam as evidências, na visão do referido chanceler, a prioridade total para o Brasil têm sido os EUA.
Por outro lado, será que estão lembrados de que os Estados Unidos da América são os principais concorrentes do Brasil nas commodities, leia-se, produção de grãos, proteínas de carne, minério de ferro?
Acredito que algumas das posturas até aqui adotadas pelo governo, que iniciou-se em 01 de janeiro, têm se mostrado no mínimo equivocadas.
Seria de bom alvitre que o Excelentíssimo Senhor Presidente da República e vossos auxiliares mais próximos, se atentassem em entregar ao povo brasileiro o que prometeram no transcurso da campanha eleitoral, como:
. Redução dos índices de criminalidade;
. Redução do desemprego;
. Melhoramento do desempenho da balança comercial;
.Crescimento econômico equilibrado…
Enfim, o Excelentíssimo chefe do Executivo Nacional foi eleito para governar o país e não para criar polêmicas desnecessárias e desinteressantes. Ou isto ou então, duas são as possibilidades: ou está envaidecido e perdido na condução do importante cargo para o qual foi escolhido pelo povo; ou propositalmente abre cortinas de fumaça com o intuito de esconder fatos outros ocorridos com pessoas próximas ao poder central.
Ademais, trazendo à colação: “Liberdade de voar num horizonte qualquer, liberdade de pousar onde o coração quiser”. Cecília Meireles.
Ademais, a lição de Dom Quixote é ainda mais atual, qual seja: “A liberdade, Sancho, é um dos dons mais preciosos, que aos homens deram os céus: não se lhe podem igualar os tesouros que há na terra, nem os que o mar encobre; pela liberdade, da mesma forma que pela honra, se deve arriscar a vida, e, pelo contrário, o cativeiro é maior mal que se pode acudir aos homens”. Miguel Cervantes.
Na mesma trajetória de raciocínio, assim exclamou renomado jurista paraibano:
“Liberdade sempre / Liberdade presente”. Thélio Farias.
Dr. Ulysses Guimarães asseverou: “A censura é a inimiga feroz da verdade. É o horror à inteligência, à pesquisa, ao debate, ao diálogo. Decreta a revogação do dogma da falibilidade humana e proclama os proprietários da verdade.”