O ritual do Cancel, confira com Palmarí de Lucena
Em sua mais recente crônica, “O ritual do CANCEL”, o escritor Palmarí de Lucena algumas práticas em temos de redes sociais têm a faculdade de “expor pessoas ao desprezo público, baseado em suposta infração contra a moralidade”. Lembra Palmarí como alguns internautas constroem “insultos e desafios contra seus presumidos adversários através de notificações no Twitter”. Confira a íntegra do comentário:
Ritual conhecido como a prática de “CANCEL” nas mídias sociais, está sendo usado para expor pessoas ao desprezo público, baseado em suposta infração contra a moralidade. Denúncias que podem causar perda de emprego, rompimento de amizades ou até protestos públicos, eventualmente transformando a “vítima-alvo” em uma não-pessoa, intolerável à uma sociedade decente. A inflexibilidade moral dos seus adeptos, autodesignados como “acordados politicamente”, os mantem sempre alertas à procura de supostos desviantes. Obama questiona o CANCEL, para ele nem é ativismo, nem uma maneira de efetuar mudanças, “[…] tudo que estão fazendo é atirar pedras […]”.
Apesar da toxicidade do CANCEL, seus defensores creditam o ritual como importante para o “ME TOO”, um movimento social denunciando homens proeminentes por abuso sexual ou comportamento machista. Políticos, celebridades e empresários denunciados perderam suas posições, alguns tiveram que pagar indenização ou serem encarcerados. CANCEL oferece a aqueles insatisfeitos com sua situação a velocidade e capilaridade das redes sociais, para atacar presumidos pilares ou promotores de ideias consideradas como culturalmente incompatíveis ou de questionável valor para a sociedade. Arma portátil das guerras culturais da atualidade.
Internautas constroem insultos e desafios contra seus presumidos adversários através de notificações no Twitter, sobrevalorizando sempre o impacto de suas postagens. O CANCEL, no entanto, não é nada comparado com o poder de estabelecer o que é ou o que não é uma crise cultural. O poder permanecendo com influenciadores de opinião, transformando ansiedades culturais em pânico, sufocando a história ou o senso comum em irrelevância. CANCEL não é a bola de demolição de valores culturais, apenas um exemplo perverso do uso indiscriminado de mídias sociais para subestimar o poder da política como arbitro de diferenças, promotor de convivência pacífica entre cidadãos e a sustentabilidade dos três poderes do Estado Democrático.