Por que Cássio vai ouvir PSDB pra romper (ou não) se em 2010 não ouviu?
Em 2010, o então candidato Cássio Cunha Lima decidiu apoiar Ricardo Coutinho na disputa ao Governo do Estado, passando por cima de uma pretensão do senador Cícero Lucena. Ou seja, não precisou consultar o partido para tomar a resolução. Mas, agora, para decidir se rompe ou não com o governador Ricardo Coutinho, diz que vai ouvir o partido.
“qualquer que seja a decisão tomada agora em 2014 – manter a aliança com RC ou romper a aliança – como ele (Cássio) conseguirá convencer os paraibanos de que tem um discurso coerente?”, é, em suma, o que indaga o professor aposentado Jônatas Frazão, que tem, frequentemente, tem brindado os leitores com sua análise política, no artigo “E agora, Cássio? Como manter a coerência do discurso?”
Confira o texto na íntegra:
“Eu tenho uma especial admiração pelo político Cássio Cunha Lima. Não apenas pela história de quem foi deputado federal, prefeito de Campina Grande por três vezes, governador da Paraíba por duas vezes e senador da República. Mas, sobretudo, pela forma como ele conseguiu envolver os campinenses e, depois, os paraibanos, em torno de sua imagem.
É digno de registro o fato de que foi Cássio quem neutralizou a oposição em Campina Grande ao atrair para si Enivaldo Ribeiro e Cozete Barbosa, apagando politicamente os dois – mesmo deixando Veneziano ‘correr solto’.
Também foi Cássio quem soube criar diante de si um ambiente favorável para se eleger governador, por duas vezes, mesmo considerando que em sua reeleição acabou exagerando na dose do pragmatismo político, o que lhe rendeu a perda do mandato e dores de cabeça judiciais que permanecem até hoje.
Foi Cássio quem, mesmo com a pecha de ‘Ficha Suja’, conseguiu se eleger senador com mais de 1 milhão de votos, enfrentando uma disputa judicial que lhe fez conquistar o mandato que era exercido, até então, pelo ex-senador Wilson Santiago, com quase um ano de atraso.
Foi Cássio quem conseguiu ‘botar bocão’ dentro do PSDB, na eleição de 2010, impondo o que queria e garantindo uma aliança com o então desafeto Ricardo Coutinho, elegendo-o governador da Paraíba mais para dizer que derrotou José Maranhão do que para dizer que foi o responsável por eleger o Mago.
É esse Cássio que, agora, muda novamente o discurso e diz que não pode decidir algo que, em 2010, foi ele quem decidiu: apoiar Ricardo Coutinho. Ele joga a decisão de manter o apoio a RC para o partido, dando uma de democrático, esquecendo que, em 2010, foi ele mesmo quem jogou a democracia interna do ninho tucano pela janela e impôs a aliança com RC.
A pergunta que se faz hoje é: qualquer que seja a decisão tomada agora em 2014 – manter a aliança com RC ou romper a aliança – como ele conseguirá convencer os paraibanos de que tem um discurso coerente?
Se Cássio mantiver a aliança com Ricardo, decepcionará seus eleitores, seus aliados, seus assessores, seus admiradores e, por conseguinte, boa parte da Paraíba. É que a grande maioria dos que acompanham o filho de Ronaldo Cunha Lima esperam dele uma ‘batida na mesa’, para mostrar que também está indignado com a forma como Ricardo tem tratado a todos.
Se Cássio romper com Ricardo, como ficará o seu discurso, que mesmo em 2010 já deixava de ser coerente, ao passar a elogiar quem antes chegou a ser, até mesmo, responsável por ações que tramitaram na Justiça e que culminaram com o carimbo que ganhou de Ficha Suja?
O que quero dizer é que, diante de qualquer que seja a decisão a ser tomada, Cássio manchará mais um pouco a sua gloriosa história política, ao privilegiar o pragmatismo político exacerbado em nome de conveniências políticas de momento. Não sei se a Paraíba vai deglutir, mais uma vez, goela abaixo, tanta incoerência.
É bom Cássio começar a pensar que subserviência ou pusilanimidades subvencionadas tem seus limites. Até mesmo – e principalmente – dentro de seu próprio ninho. Olhe um pouco de lado, senador.”